
William Shakespeare
Poesias...crônicas...contos...um momento...um pensamento...vou te contar...
O que você pode e deve aprender com Jorge Paulo Lemann, fundador do Banco Garantia, e seus inseparáveis parceiros, Beto Sicupira e Marcel Telles. Juntos, eles ergueram um império de R$ 144 bilhões. Nesse processo, criaram uma cultura corporativa revolucionária
por Alexandre Teixeira, com Camila Hessel, colaborou Darcio Oliveira - REVISTA ÉPOCA NEGÓCIOS
![]() |
---|
EMPREENDEDOR Jorge Paulo Lemann em foto de 2005. O fundador do Garantia criou modelo de gestão único baseado na meritocracia |
No fim do período letivo de 1957, como era costume na Escola Americana do Rio de Janeiro, os alunos reuniram-se para escolher os destaques do ano. Sempre em inglês, elegeram o mais amigável, o mais artístico, o mais fofo e assim por diante. Na categoria "Mo st likely to succeed" (algo como "com mais chances de ser bem-sucedido"), dois nomes foram lembrados. Um deles, "Jorge Lemann". Retratado no álbum da classe com pinta, topete e terninho de galã, Jorge Paulo Lemann, aos 17 anos de idade, é descrito como um dos dois veteranos que estudaram desde o jardim-de-infância na Escola Americana. "Embora aparente nunca estudar, ele sempre consegue boletins invejáveis - principalmente 'As' com uma pitada de 'Bs'", diz o Livro do Ano. Bom aluno sem fazer força, o jovem Lemann arrancava suspiros das colegas. "Ao longo dos anos, Jorge trabalhou duro para adquirir sua reputação como um sedutor - a ladies' man -, e, como verdadeiro brasileiro, seus interesses (além de tênis e pesca com arpão) são ir à praia e observar as pessoas - garotas, isso sim." Lemann era conhecido na escola por viajar muito ao exterior e por seus planos de fazer faculdade nos Estados Unidos, de preferência em Harvard. No fim daquele ano, os estudantes prepararam também a "Profecia da Turma", na qual tentavam prever como estariam seus colegas dentro de dez anos. Nela, lê-se o seguinte: "Ganhando manchetes no mundo dos esportes está Jorge Paulo Lemann, que recentemente venceu o Campeonato Mundial de Tênis de 1967. Jorge, que administra uma importante cadeia de fábricas de enlatados no Brasil, é atualmente casado com a Miss Universo de 1967". Poucas vezes uma brincadeira de adolescentes revelou-se tão premonitória.
Lemann chegou ao topo do ranking mundial de tênis por três vezes - embora na categoria veteranos. Foi cinco vezes campeão brasileiro e defendeu tanto o Brasil como a Suíça na Copa Davis. Nem sequer namorou a Miss Universo de 1967 - a americana Sylvia Louise Hitchcock -, mas casou-se duas vezes, com mulheres bonitas e elegantes: a psicanalista Maria de Santiago Dantas Quental, morta em abril de 2005, e a educadora suíça naturalizada brasileira Susanna Lemann, dona da agência de viagens Matueté. Com cada uma delas, teve dois filhos homens e uma filha mulher. Ele tampouco é dono de uma fábrica de enlatados, a não ser que a definição da categoria seja ampla o bastante para abarcar os bilhões de latas de cerveja e refrigerante que saem anualmente das linhas de produção sob seu controle. Mas, depois de se formar economista em Harvard, conforme planejado, chegou a uma altura no mundo dos negócios que mesmo seus colegas de Escola Americana não imaginariam.
Ao lado de Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, seus parceiros de negócios há mais de três décadas, Lemann detém 25% do capital da maior cervejaria do mundo, a InBev; é dono da holding Lasa, que reúne Lojas Americanas e Blockbuster; do grupo B2W, onde estão agrupadas as lojas virtuais Submarino, Americanas.com, Ingresso.com e o canal de televendas Shoptime; e da São Carlos Empreendimentos Imobiliários. Os três estão entre os principais acionistas da maior empresa de transporte e logística da América do Sul, a ALL, e, desde dezembro, têm uma fatia de 8,3% do capital da CSX, uma das maiores ferrovias dos Estados Unidos. Somadas, essas participações valem R$ 46,35 bilhões, o equivalente, por exemplo, ao valor de mercado da Companhia Siderúrgica Nacional. Lemann é hoje, aos 68 anos, a quinta pessoa mais rica do Brasil e a 172ª do mundo. Ele aparece, ainda, na lista dos mais ricos da Suíça - onde reside desde 1999, num subúrbio exclusivo de Zurique -, pouco atrás da herdeira grega Athina Onassis.
A cultura forjada no Garantia nos anos 70 chegou ao varejo com a compra da Lojas Americanas, em 1982, e à indústria pela aquisição da Brahma, a partir de 1989 |
Mais importante do que seu império e sua fortuna, para ele e para aqueles que se interessam por questões de gestão e liderança, é seu legado para o meio empresarial brasileiro. A cultura forjada por Lemann no Banco Garantia, a partir de meados da década de 70, chegou ao varejo, por meio da Lojas Americanas, comprada em 1982; à indústria, pela aquisição da Brahma, em 1989; influenciou virtualmente todos os bancos de investimento brasileiros e espalhou-se pelas mais de 30 empresas compradas até hoje pela GP Investimentos, fundada por Lemann, Sicupira e Telles. Da Gafisa ao Ig, passando pela Telemar.
Mais do que isso, a "cultura Garantia", baseada numa rígida meritocracia de resultados, numa preocupação obsessiva com a formação de líderes dentro de casa e com a transformação de funcionários em sócios, tornou-se referência para companhias tão afastadas da área de influência do lendário banco como Suzano e Gerdau. "O Jorge Paulo não é só um dos melhores gestores de empresas do Brasil. É um dos melhores do mundo", diz o industrial Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho da Gerdau. "A única escola de administração que surgiu no Brasil na minha geração foi a do Lemann, do Garantia", afirma Francisco Gros, ex-presidente do BNDES e atual CEO da OGX, a empresa de petróleo e gás de Eike Batista. Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, costuma tirar alguns dias por ano para freqüentar cursos intensivos de administração em Harvard. Em fevereiro, recém-chegado de uma dessas temporadas, deu o seguinte depoimento: "Estudamos 15 cases das mais bem-sucedidas empresas do mundo. Em todos os tópicos de gestão abordados, eu sempre me lembrava do Lemann. Ele já havia feito no Brasil tudo aquilo que a escola pregava como as mais eficazes técnicas de administração".
Por Lygia Fagundes Telles
Extraído do livro: A Disciplina do Amor
A cidade ficou na maior excitação com a chegada de Hortência Serena a declamadora. Fui correndo ver seu retrato de corpo inteiro, pregado numa cartolina na porta do clube: fiquei extasiada. Nunca tinha visto uma mulher assim tão grande, tão suntuosa no seu longo vestido preto e diadema, revirados os olhos para o céu, os braços pendidos na frente do corpo com as mãos fortemente entrelaçadas no gesto da Senhora das Dores na procissão da Paixão. O anúncio dizia que fora aplaudidíssima nos teatros de São Paulo, Rio e Lisboa, mas tia Ernestina franziu a boca desconfiada: se veio dar com os costados aqui é porque não presta...Reação enérgica da minha mãe, imagina, uma artista internacional!
Foi a primeira vez que ouvi a palavra internacional e que ficou para sempre ligada àquela noite em que Hortência Serena começou a recitar e de repente abriu os braços imensos e o vestido preto ( o mesmo do retrato) se abriu em duas enormes asas presos os panejamentos em argolas enfiadas nos dedinhos. Dedinhos, sim, as mãos gorduchas eram minúsculas como minúsculos eram os pés metidos em sapatinhos de cetim com fivelas de pérolas. No começos dos recitativos ( estávamos na primeira fila) sua figura me empolgou te tal forma que eu só olhava, mal ouvia o poema no qual ela imitava a voz do vento, soprando e rodopiando numa ventania tão forte que eu chegava a me encolher na cadeira, e se tivesse enlouquecido? Mas no número seguinte, já acostumada com as asas, só prestei atenção na história pungente do pintor que tinha um cachorro muito amado e amadíssimo gorro de veludo, presente da noiva que teria morrido, não estou muito certa do destino da moça. O gorro e o cão, eis os únicos bens do artista de vida duríssima, ainda não estava na moda investir em quadros no alto mercado dos capitais. Mas acontece que o pintor enriqueceu e com o poder e a glória vieram os vícios correlatos: deu de beber, ficou vaidoso, mesquinho. O coração, que era só brandura, endureceu tanto que até o cachorro passou a ser maltratado em meio das libações e orgias. Palavras que também aprendi nesse tempo. Numa noite de maior bebedeira, quando o mísero cachorro já velho e quase cego se aproximou abanando o rabo, sorrindo, o pintor teve a idéia: livrar-se do antigo amigo que o irritava com sua simples presença. Tomou-o pela coleira, vamos passear, querido? E atirou-o no rio. Mas no instante exato em que o perverso se inclinou para as águas, o gorro de veludo ( única lembrança da inocente juventude) é arrancado pelo vento e cai no rio juntamente com o cão. O pintor se enfurece: afinal, só por causa daquele mísero bicho ele perde sua preciosa relíquia! Volta para casa, deprimido, tenta dormir, não consegue, põe-se andar pelo casarão quando de repente ouve um estranho ruído lá fora, alguém como que batendo fracamente, chamando: quem seria àquelas horas?
A lágrimas que já corriam abundantes pela minha cara deram uma parada brusca no suspense que Hortência Serena fez render, estáticas mãos e asas abertas no ar_ quem?!...Silêncio. Um silêncio tão profundo que se ouviu o colchete de pressão do corpete da declamadora se abrir no susto. Abri a boca. O pintor abre a porta: na sua frente está o cachorro pingando água, tremendo, trazendo na boca o gorro de veludo. Aproxima-se ganindo muito doce ( nesse momento, minha mãe começou a me arrastar da sala), deposita-lhe aos pés o gorro amado e tomba redondamente morto. Na rua, apressadamente minha mãe me abraçou, me consolou, eu não podia chorar alto assim, não via então? Estava atrapalhando. Repetiu que tudo aquilo era bobagem, mentira e voltamos aos nosso lugares. Hortência Serena agradecia as últimas palmas com a soberba de uma rainha. Teria mesmo me fuzilado com um olhar azul de cólera ou foi impressão minha? Só sei que não a encarei mais até o fim da recitação.
No dia seguinte, quando minha mãe me mandou comprar os ingressos, li a novidade escrita com tinta ainda úmida na cartolina: proibida a entrada de crianças. Meu irmão, que não fora na véspera porque estava de castigo, deu um pontapé no cartaz, essa vacona! Mas eu fiquei quieta
Revista Galileu
Por Ricardo Bonalume Neto
No livro “Creta”, historiador britânico resgata uma das mais trágicas e desnecessárias batalhas da Segunda Guerra Mundial
![]() |
---|
A batalha pela ilha de Creta não foi apenas uma das mais furiosas da Segunda Guerra Mundial. Foi também uma das mais desnecessárias e trágicas.
O motivo fica claro no livro "Creta - Batalha e Resistência na Segunda Guerra Mundial, 1941-1945", do historiador britânico Antony Beevor. Ex-oficial de cavalaria do exército britânico, ele é autor de vários best sellers de história militar. Exemplos disso são as obras sobre as batalhas de Stalingrado e de Berlim.
Beevor consegue combinar com perfeição acontecimentos em vários níveis, de generais e estadistas traçando estratégias a soldados e marinheiros tentando sobreviver ao combate.
Os alemães liderados por Adolf Hitler tiveram que fazer duas intervenções em 1941 para salvar do desastre as forças militares de sua aliada incompetente, a Itália de Benito Mussolini. Os italianos haviam levado uma surra dos britânicos no norte da África e foram também vencidos pelos gregos em uma mal executada invasão.
Os britânicos reforçaram os gregos, mas foram de novo expulsos do continente pelos alemães, como em 1940 na França. Mantiveram a ilha de Creta. O território era importante para os britânicos protegerem sua navegação no Mediterrâneo. Para os alemães, seu valor estratégico era bem menor, mas isso não impediu que fizessem um feroz ataque com pára-quedistas. Como são tropas pouco armadas, os pára-quedistas sofreram perdas terríveis. Creta foi uma vitória de Pirro para os alemães, um desastre evitável para os britânicos e uma tragédia para os cretenses, que se viram obrigados a suportar a ocupação nazista.
Creta, de Antony Beevor.
Editora Record. 462 págs. R$ 55
ABSTRAÇÕES FÍSICAS PARA LEIGOS
![]() |
---|
Michio Kaku é um dos grandes divulgadores da física em atividade. Neste livro, ele toma para si a tarefa de apresentar ao leigo um dos mais abstratos e complexos campos de pesquisa, o que pondera sobre a existência de dimensões e universos paralelos ao nosso. Para introduzir essas idéias, conduz o leitor numa excursão por vários dos principais modelos e teorias adotados hoje. Sua formação como teórico lhe permite passear com desenvoltura pelos conceitos fundamentais da mecânica quântica, inflação, Big Bang, teorias de cordas e por aí vai. Ao mesmo tempo, especula sobre temas como o destino final do Universo, a possibilidade de vida alienígena e o debate sobre algum tipo de predeterminação na formação do Cosmo. Só por sua abrangência e clareza, o livro já constitui uma ótima introdução à história da física. Leia e viaje. (Pablo Nogueira)
Mundos Paralelos, de Michio Kaku.
Editora Rocco. 372 págs. R$ 55
Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.Qual porém é a verdadeira
FERNANDO PESSOA
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
|
A traumática experiência do Holocausto foi um estímulo poderoso para as pesquisas sobre o lado destrutivo do ser humano. Terminada a guerra, muitos dos carrascos nazistas se justificaram dizendo que estavam cumprindo ordens, e que se desobedecessem teriam sido mortos.
Nos anos 1960 o psicólogo americano Stanley Milgram se perguntou se cidadãos comuns, instigados por alguma forma de autoridade, também teriam a capacidade de infligir dor e sofrimento a pessoas que nunca lhes fizeram mal. Para avaliar a possibilidade, criou em 1961 um experimento onde uma cobaia recebia ordens para dar choques elétricos cada vez maiores numa falsa vítima, sendo que a intensidade do choque mais forte seria teoricamente capaz de matar (veja descrição na página anterior). Milgram pediu a 40 colegas psiquiatras que estimassem o porcentual de indivíduos que chegaria a aplicar choques potencialmente fatais. Os psiquiatras apostaram que menos de 1% seria capaz de agir de forma tão sádica. Mas os resultados iniciais mostraram que 65% das cobaias obedeciam até o fim.
Outro experimento famoso foi feito também nos Estados Unidos em 1971. O psicólogo Philip Zimbardo recriou o ambiente de uma prisão no seu laboratório de psicologia, e designou 24 jovens escolhidos aleatoriamente para conviverem lá por duas semanas como guardas e prisioneiros. O resultado foi uma explosão de opressão que levou o experimento, previsto para durar 15 dias, a ser interrompido no sexto.
O mal e Abu Graib
O que experimentos como esses nos ensinaram? Arthur Miller, psicólogo da Universidade Miami e organizador do livro "The Social Psychology of Good and Evil" (A Psicologia Social do Bem e do Mal) explica que a visão dominante na psicologia social leva em conta os contextos sociais. Existe uma minoria de indivíduos psicopatas, destrutivos no mais alto grau e cujo comportamento não revela empatia ou compaixão. Mas as pessoas chamadas normais podem causar (e causam) grandes danos, influenciadas por outras pessoas e por certas circunstâncias. "Um exemplo clássico é o da Alemanha antes do nazismo, que convivia com desemprego, pobreza e devastação. Mas há vários casos onde pessoas procuram sair de situações difíceis em suas vidas retaliando, mentindo, arranjando bodes expiatórios", compara.
Dois fatores reforçam a força das circunstâncias. O primeiro é a visão de que a vítima pertence a um grupo diferente. "Quase todas as formas de preconceito e hostilidade vêm daí", diz Miller. O segundo é a hierarquia. "As pessoas na posição mais baixa percebem violações éticas no seu ambiente de trabalho, mas temem ser punidas se denunciarem o que vêem. A tendência é imitar seus pares e obedecer às autoridades, e com o tempo seu comportamento pode se tornar danoso ou corrupto."
Ele ressalta que essa visão é importante porque muitas vezes as autoridades preferem apontar culpados a realizar mudanças estruturais. "Quando se denunciou a tortura na prisão de Abu Graib, no Iraque, os políticos disseram que o problema se limitava a alguns guardas. Mas Zimbardo veio a público lembrar que algo sistêmico nas prisões faz com que até os bons guardas ajam como sádicos", analisaPara o psicólogo David Buss, a chave está na teoria da evolução. A fim de sobreviver e se reproduzir, o Homo sapiens criou duas estratégias. Uma é aperfeiçoar as habilidades que garantem mais acesso a recursos (tornar-se mais forte, mais atraente etc.). A outra é diminuir as chances de sobrevivência e reprodução dos seus rivais, o que Buss chama de "impor custos adaptativos". Essa segunda estratégia explicaria os comportamentos de maus. Por exemplo, denegrir a reputação de alguém teria o efeito de reduzir o acesso da vítima às benesses de um status social alto.
Dentre os atos que impõem custos adaptativos elevados, o assassinato seria o mais custoso de todos. Este aliás é o tema do novo livro de Buss, intitulado "Por que a Mente É Projetada para Matar". "A capacidade de matar é parte da natureza humana, e todos têm o potencial para agir assim em certas circunstâncias", disse Buss a Galileu. "Mas enquanto algumas pessoas a consideram uma medida extrema, outras a usam para subir na hierarquia, adquirir recursos e acesso a mulheres de alto valor reprodutivo", diz. "É abominável, mas funciona".
Gente diferente
Já o psiquiatra americano Michael Stone se tornou reconhecido por estudar as biografias de 498 pessoas realmente más, de Hitler, Pol Pot e Stalin a Charles Manson e Andrei Chikatilo, famoso serial killer canibal. Stone criou uma pioneira escala de maldade, com 22 itens onde agrupava alguns dos malfeitores. "No caso dos tiranos, a maior parte foi espancada e negligenciada em casa. O mal que fizeram foi uma vingança à crueldade a que foram expostos."
Mas há outras causas. "O ambiente não explica tudo. O irmão de Hitler também era espancado, mas nunca cometeu um crime", conta Stone. "Muitos serial killers vêm de famílias normais. São raros, mas existem", diz. O médico Renato Zamora, do Laboratório de Genética do Comportamento da UFRGS, estuda a biologia de pessoas muito violentas. "O cérebro delas funciona de forma diferente", diz. Zamora cita como evidência um estudo que fez com dez psicopatas, a quem submeteu a testes de teoria da mente para avaliar o funcionamento do lóbulo frontal. A pontuação dos psicopatas se revelou tão baixa quanto a das pessoas com lesão cerebral na área. "O psicopata é um caso de lesão cerebral sem dano orgânico. Algo semelhante acontece nos casos de depressão ou esquizofrenia. Essa transformação 'desligou' neles a capacidade de sentir compaixão."
A maldade e a arte | |
Como entender o fascínio da história de Anakyn/Darth Vader? Para o diretor teatral e psicólogo social carioca Bernardo Jablonski, a chave está em nossos conflitos pessoais. "A arte é um espelho mágico que reflete o mundo e propõe soluções", explica. No caso da série "Guerra nas Estrelas", é possível encontrar elementos muito fortes na psique humana, como as relações de poder, o relacionamento entre pai e filho e a luta entre o bem e o mal. "Histórias assim são projeções de desejos muito profundos. Na visão contemporânea da psicologia social, somos tanto bons como maus. Sou capaz de ajudar uma velhinha a atravessar a rua, mas se alguém molestar meu filho, eu mato. Sem querer diminuir as religiões, Deus e o diabo somos nós." A dualidade dos jedis é também a nossa. |
Ser ou não ser
A falta de compaixão pode ser encontrada em outros lugares. "Há 20 traços característicos de psicopatas", explica o psiquiatra forense americano Michael Welner. "Muitos, como narcisismo forte e pouca compaixão, estão presentes em altos executivos e pessoas bem-sucedidas." Ele acrescenta que os bons executivos também possuem qualidades criativas e inspiradoras, ou não teriam sucesso. "Mas é preocupante ver que quando uma pessoa bem-sucedida assume que pratica atos maus, o público parece relevar." Calejado pelos anos vendo casos horrorosos em tribunais, Welner crê que "qualquer um é capaz de fazer coisas más", e atualmente coordena uma pesquisa online para criar uma escala de maldade que sirva como parâmetro em julgamentos. "Isso pode ajudar a sociedade a ser menos condescendente, e parar de enxergar criminosos como popstars."
Para o filósofo Denis Rosenfield, autor de "Retratos do Mal", a origem dos atos destrutivos não seria o ambiente, a história de vida ou a biologia, mas a consciência. "Dizer que o mal é uma doença é uma recusa a pensar", diz. "O ser humano sempre pode dizer não a certas ações e sim a outras, mesmo que tenha um lado corrupto dentro dele. O mal é uma questão de escolha."É possível que seja. Afinal, até Darth Vader deixou de ser mau um dia.
Para ler