quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ah o consumismo é um luxo que nós mulheres merecemos!!!! Sem contar que é uma tremenda válvula de escape!!!


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Batman já supera bilheteria do anterior


Com agência Reuters
Revista Veja

Bastaram seis dias em cartaz nos Estados Unidos para que Batman O Cavaleiro das Trevas superasse a bilheteria de toda carreira do filme anterior da série, Batman Begins. Segundo a Warner Bros, somente no final de semana de estréia o filme arrecadou 158,4 milhões de dólares nas bilheterias. O valor subiu para 200 milhões de dólares na terça, superando os oito dias de Piratas do Caribe. Até o início da noite desta quarta ainda não havia números da arrecadação do dia.

Segundo a empresa Box Office, que monitora o setor, Batman Begins encerrou sua carreira nos cinemas, após quatro meses, com uma arrecadação total de 205,3 milhões de dólares. A nova versão tem como atração adicional o vilão Coringa, interpretado por Heath Ledger, que morreu de overdose acidental de medicamentos em janeiro, logo depois das filmagens.

O Cavaleiro das Trevas entrará para a lista dos dez lançamentos mais bem-sucedidos da história quando ultrapassar os 373,6 milhões de dólares arrecadados nos EUA, cifra obtida por Homem-Aranha 2. A estimativa da Warner é que o filme supere os 400 milhões de dólares com as vendas no exterior.



O budismo poderá desaparecer


Por Norimitsu Onishi, do The New York Times

Os japoneses há muito tempo têm uma abordagem tolerante em relação à religião, celebrando o fim do ano antigo nos templos budistas e dando boas-vindas ao ano novo, algumas horas depois, em santuários xintoístas. Quando se fala em funerais, no entanto, os japoneses têm sido tradicionalmente budistas inflexíveis – tanto que o budismo no Japão é muitas vezes chamado de “budismo de funeral”, uma referência ao antigo quase-monopólio da religião com relação a cerimônias elaboradas e lucrativas envolvendo mortes e ritos fúnebres.

Mas essa expressão também descreve uma religião que, ao parecer atender mais as necessidades dos mortos do que dos vivos, está perdendo seu posto na sociedade japonesa. “Essa é a imagem do budista de funeral: que ele não atende as necessidades espirituais das pessoas”, disse Ryoko Mori, principal sacerdote do Templo Zuikoji, de 700 anos, no norte do Japão. “No islã ou no cristianismo, eles fazem sermões sobre temas espirituais. Mas no Japão de hoje, pouquíssimos sacerdotes budistas fazem isso”.

Mori, de 48 anos, 21º sacerdote-líder do templo, tinhas dúvidas de que o templo sobreviveria até a chegada do 22º. “Se o budismo japonês não agir agora, irá desaparecer”, disse. “Não podemos esperar. Temos que fazer algo”. Em todo o Japão, o budismo enfrenta uma confluência de problemas, alguns comuns a religiões em outras nações desenvolvidas, outras particulares à fé daqui. A ausência de sucessores para sacerdotes-líderes está pondo em risco templos administrados por famílias em todo o país.

Ao mesmo tempo em que o budismo está em declínio em áreas urbanas, as fortalezas religiosas rurais estão sendo esvaziadas, com devotos mais velhos morrendo e taxas de natalidade baixas. Talvez o fator mais significativo seja que o budismo está perdendo o controle sobre a indústria funerária, à medida que mais e mais japoneses estão recorrendo a casas funerárias ou optando por não realizar funeral nenhum. A expectativa é que muitos templos no interior do país irão fechar nos próximos anos, levando com eles séculos de história local e contribuindo para a reviravolta demográfica que está a caminho no Japão rural.

Em Oga, em uma península de mesmo nome que olha para o Mar do Japão na Província de Akita, sacerdotes budistas estão observando o declínio da população e da indústria de pesca local. “Não é exagero dizer que a população caiu para cerca da metade do nível que atingiu durante o pico e que todos os negócios também foram reduzidos pela metade”, disse Giju Sakamoto, 74 anos, o 91º sacerdote-líder do templo mais antigo de Akita, Chorakuji, fundado ao redor do ano de 860. “Diante dessa realidade, simplesmente insistir que somos uma religião e que temos uma longa história – a mais longa de Akita, na verdade – soa como um conto de fadas. Não tem importância nenhuma. É por isso acredito não haver esperanças para este lugar”, disse Sakamoto em seu templo, situado no alto de um cabo com vista para uma vila a beira-mar.

Para sobreviver, Sakamoto concentrou suas energias em gerenciar uma casa de repouso e um novo templo em um subúrbio em crescimento da Cidade de Akita. Esse templo, no entanto, atraiu somente 60 famílias como membros desde sua abertura há alguns anos, muito menos que as 300 consideradas necessárias para um templo ser financeiramente viável. Durante séculos, o templo budista típico, cuja direção era passada de pai para filho, servia a um quadro de membros, raramente, ou quase nunca, tentando convertê-lo. Com algumas 300 famílias para servir, o sacerdote-líder do templo e sua esposa ficavam bastante ocupados.

Não só o número de templos no Japão tem caído – de 86.586 em 2000 para 85.994 em 2006, segundo a Agência Japonesa para Questões Culturais – mas o número de membros também caiu em muitos templos. “Tivemos que procurar outros trabalhos porque somente o templo já não era suficiente”, disse Kyo Kon, 73 anos, esposa do sacerdote-líder do Kogakuin, um templo daqui com 170 membros. Ela trabalhava em uma creche enquanto seu marido era empregado de um escritório local de planejamento territorial.

Não muito longe, em Soshoji, um templo cujos membros caíram para 85 idosos, o sacerdote-líder, Jokan Takahashi, 59 anos, enfrentava um problema comum à maioria dos negócios familiares no Japão: o de encontrar um sucessor. Seu filho mais velho tinha participado do treinamento para se tornar sacerdote budista, mas Takahashi tinha dúvidas quanto a pedir que ele assumisse o posto.

“Meu filho cresceu sem saber nada mais além do mundo do templo, e ele me disse que não se sentia livre”, contou, explicando que seu filho, agora com 28 anos, trabalhava em uma empresa em uma cidade próxima. “Ele me pediu para ficar livre enquanto eu estivesse trabalhando, e disse que voltaria para assumir o posto quando completasse 35 anos. Mas, considerando o futuro, pressionar uma pessoa jovem a assumir um templo dessa forma pode ser cruel”, disse Takahashi, depois de proporcionar a visitantes um passeio pelo cômodo mais importante do seu templo, uma câmara interna com arcas de madeira, lembrando armários, onde, segundo ele, os espíritos dos ancestrais dos membros do templo estão guardados.

Em uma manhã recente, Mori, o sacerdote do templo de 700 anos, começou o dia com uma visita à casa de uma família produtora de arroz, marcando o 33º aniversário da morte de um avô. Inclinando-se diante do altar da casa, Mori rezou e entoou provérbios. Mais tarde, repetiu os rituais na casa de outra família, que comemorava o 17º aniversário da morte de um avô. Cada vez mais, muitos japoneses, especialmente os de áreas urbanas, evitam essas tradições. Muitos nem pertencem mais a templos e em vez disso recorrem a casas funerárias quando seus parentes morrem. As casas fornecem sacerdotes budistas para as cerimônias funerárias.

Além disso, um número crescente de japoneses vem optando por cremar seus entes queridos sem nenhum funeral, disse Noriyuki Ueda, antropólogo do Instituto de Tecnologia de Tóquio e especialista em budismo. “Por causa disso, sacerdotes budistas e templos não vão mais estar envolvidos em funerais”, disse Ueda. Ele disse que o budismo japonês foi subvertido do seu lado espiritual em grande parte porque se comprometeu durante a Segunda Guerra através de seus fortes laços com as forças armadas do Japão. Depois que sacerdotes budistas glorificaram soldados mortos e deram a eles nomes póstumos budistas especiais, falar de pacifismo perdeu o sentido.

Mori, o sacerdote daqui, contou que depois da Guerra houve um desejo por funerais cada vez mais luxuosos com nomes budistas prestigiosos. Esses nomes – com os maiores níveis tradicionalmente dados àqueles que levaram vidas honrosas – são comprados hoje rotineiramente, sem importar a conduta do morto durante a vida.

“Os soldados, que deram a vida pelo país, receberam nomes póstumos budistas especiais, então depois disso todo mundo queria ter um, e os preços aumentaram drasticamente”, disse Mori. “Todos estavam enriquecendo, então todos queriam ter um. Mas isso nos trouxe uma imagem ruim”, ele disse, acrescentando que o preço do melhor nome em Akita custa cerca de 3 mil dólares – apesar de esse ser um preço muito abaixo do que é praticado em Tóquio.

De fato, essa imagem é reforçada pela forma como negócios e cerimônias funerárias são conduzidas. As taxas não são declaradas e ficam ao critério da família, e os parentes geralmente sentem uma pressão implícita para serem bastante generosos. O dinheiro é entregue em envelopes, e não se emitem recibos. Os templos, com seu status de organizações religiosas, não pagam impostos.

Foi em parte para dissipar essa imagem ruim que Kazuma Hayashi, 41 anos, sacerdote budista que não tem o próprio templo, disse ter fundado uma empresa, Obohsan.com (obohsan significa sacerdote), há três anos, em um subúrbio de Tóquio. A empresa envia sacerdotes budistas autônomos para funerais ou outras cerimônias, eliminando casas funerárias ou outros atravessadores. Os preços, que são pelo menos um terço mais baixos do que a média, são listados claramente no site da empresa. Há um desconto de 10% para membros. “Até damos recibo”, disse Hayashi.

Hayashi argumentou que em vez de separar ainda mais o budismo japonês de suas raízes espirituais, seu negócio atraiu mais pessoas com seus preços menores. Os nomes póstumos mais bem-valorizados saem por cerca de US$ 1.500 – uma pechincha. “Sei que, originalmente, o budismo não se trata disso”, disse Hayashi, com relação aos nomes de prestígio. “Mas é uma marca que nossos clientes escolhem. Alguns realmente querem, e isso significa que se existe um forte desejo dentro dele, temos que atendê-lo”. Depois de se desculpar por desviar dos ideais budistas, Hayashi contou que oferece a seus clientes o nome mais valioso, mas com cuidado: “Em resumo, essa é a diferença entre ir a uma loja local e comprar uma bolsa da Gucci”.

terça-feira, 22 de julho de 2008

"Que fazer do relógio
ou fazer de nós mesmos
sem tempo sem mais ponto
sem contraponto..."

C.Drummond de Andrade.

quarta-feira, 16 de julho de 2008


"Amadurecer foi retirar os rostos e as peles e começar a ver no espelho o verdadeiro eu - onde se lê uma severa contabilidade dos gastos e lucros, saldos nem sempre tranqüilizadores. Quanto de amargura, quanto de bom humor sobrou, quanta capacidade de se renovar? Entender que não precisamos ser onipotentes é uma das maiores libertações. Ninguém, homem ou mulher, pai ou mãe, pode ser totalmente responsabilizado pela sorte de ninguém, por seus erros e acertos, por sua solidão ou felicidade - a não ser na medida justa, em que se é responsável por quem se ama, dentro dos limites da capacidade de cada um. Na maturidade percebe-se que não importa tanto o que fizeram conosco, mas o que fizemos com o que eventualmente nos aconteceu. É uma indagação dramática, que na juventude parece algo a resolver num futuro muito remoto. Mas "de repente, tinham-se passado vinte anos". E nós, e nós? Precisamos descobrir que amadurecer não significa desistir nem estagnar. "





O Rio do Meio, Lya Luft

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Eles não se bicavam


Leonardo Da Vinci e Michelangelo, dois dos maiores artistas de todos os tempos, foram contemporâneos e rivais. Gênios na arte de fazer Arte, eles também sentiam inveja, raiva e culpa. Descubra os homens por trás dos mitos
Por Maria Fernanda Vomero Revista Super Interessante
O ano era 1504. E a cidade de Florença, localizada na Itália, berço da Renascença, estava em polvorosa com o que se chamou de "a batalha das batalhas". A notícia que corria de boca em boca era que o jovem artista Michelangelo Buonarroti, então com 29 anos, admirado por boa parte da sociedade da época, tinha aceitado o convite para pintar uma cena de guerra numa das paredes do Palazzo della Signoria, então sede do governo florentino. O fato, por si só, não chamaria tanto a atenção se não fosse por um detalhe: o mesmo convite tinha sido feito, um ano antes, a outro grande artista, o respeitadíssimo Leonardo Da Vinci, na época com 51 anos. Leonardo aceitara a encomenda e já havia até montado seu andaime na parede oposta àquela posteriormente oferecida a Michelangelo. A tarefa dos dois era retratar uma cena de batalha, de livre escolha, inspirada na história recente de Florença. O trabalho era tão bem pago que se tornou irrecusável – para um e para outro. Parece que Leonardo não gostou muito da idéia de ter Michelangelo por perto, mas se sentiu estimulado com o clima de competição. Logo ele, que tinha fama de procrastinador, trabalhou com afinco nos desenhos que dariam origem à sua Batalha de Anghiari. "Estavam em jogo duas visões bastante diferentes do fazer artístico", diz o historiador Francisco D’Alambert, professor da Universidade Estadual Paulista, Unesp. De um lado, Leonardo, o intelectual que fazia da natureza sua fonte de inspiração e já tinha escrito um tratado sobre a pintura. Do outro, Michelangelo, o escultor que imprimia às figuras de seus afrescos o mesmo vigor de suas obras no mármore. Ambos, como bons renascentistas, almejavam a perfeição. E ambos, como bons rivais, não se topavam. Pense nesse confronto como se os físicos Isaac Newton e Albert Einstein tivessem vivido na mesma época, na mesma cidade, e a prefeitura tivesse chamado ambos a medir forças realizando o mesmo teste de matemática. É claro que Florença se tornou pequena demais para dois gênios com aquela estatura. E é lógico também que os florentinos ficaram eletrizados com a expectativa de qual dos dois iria realizar a melhor pintura épica. Florença e o mundo jamais ficaram sabendo qual dos dois venceria o desafio. É que ambos interromperam seus trabalhos no Palazzo della Signoria entre 1505 e 1506. Leonardo, porque estava comprometido com encomendas inacabadas em Milão. (Quase criou um entrave diplomático entre os governos das duas cidades.) Michelangelo, porque precisou atender aos pedidos caprichosos do papa Júlio II, em Roma, e deixou preparados apenas os desenhos de sua Batalha de Cascina. Aparentemente, os motivos da desistência de ambos foram alheios à competição. Mas quem garante que não tenham também, de alguma forma, em algum momento, amarelado? Pois é, caro leitor. Atrás dos gênios e dos mitos existem homens – que amam, invejam, cometem deslizes e sentem medo e raiva como qualquer um de nós, pobres mortais. Pode-se dizer que a rivalidade entre Michelangelo e Leonardo era inevitável. E não apenas pela semelhança de suas grandezas artísticas. Eles também não combinavam em quase nada: as diferenças se revelavam na aparência, nos traços de personalidade, nos caminhos artísticos, nas buscas estéticas que escolhiam e até mesmo nas influências filosóficas que haviam recebido. Simpatizante da teoria neoplatônica, bastante em voga naquela época, Michelangelo buscava tirar do mármore formas idealizadas, bem de acordo com a subjetividade do filósofo grego Platão. Leonardo, ao contrário, se identificava muito mais com a visão objetiva de Aristóteles, que valorizava a investigação científica e a observação da natureza. O Michelangelo, 23 anos mais jovem que o rival, era irreverente, impetuoso e, não raro, malcriado. Sua intempestividade lhe rendeu brigas homéricas com os Médicis, a família florentina que patrocinava grande parte dos artistas da época. Discordava daqueles que viam em Leonardo um gênio. Mas, num cantinho qualquer do seu ateliê, Michelangelo se via na obrigação de estudar as experimentações de seu grande desafeto, por ele ter sido precursor de uma série de inovações técnicas – como o "claro/escuro", o jogo de sombra e luz. "Michelangelo nutria por Leonardo um misto de inveja, discordância e admiração velada", diz Maria Elisa de Oliveira Cezaretti, professora de História da Arte na Faculdade Belas Artes, de São Paulo. Leonardo chamava a atenção, principalmente por sua excepcional beleza e seu porte físico. Estava acostumado a usar túnicas coloridas, em geral cor-de-rosa, que iam até os joelhos – um pouco curtas para os padrões da época, é verdade, mas sempre na moda. Deixava que a longa e encaracolada barba chegasse à metade do peito. E era festeiro: baladas eram com ele mesmo. "Leonardo participava de festas na corte, gostava de música, era bastante animado", diz o artista plástico Percival Tirapeli, professor da Unesp. Foi graças a esse jeito que tinha para lidar com as pessoas, aliado a seu enorme talento, que ele conseguiu driblar a má-sorte de ter sido filho bastardo naquela época. (Na Itália renascentista, quem carregava tal rótulo era rechaçado pela sociedade.) Leonardo nasceu em Vinci, um bucólico vilarejo distante um dia de Florença, em 1452. Aos 13 anos, deixou sua cidade natal para trabalhar no ateliê do mestre florentino Andrea Del Verrocchio, artista conhecido por ser um professor inspirado, onde teve o primeiro contato com as artes e com a filosofia. O jornalista britânico Michael White, autor da biografia Leonardo: The First Scientist (Leonardo: O Primeiro Cientista), recém-lançada nos Estados Unidos e ainda inédita no Brasil, afirma que Leonardo, um típico garoto do interior, se transformou num dândi graças ao burburinho de Florença. A cidade era o berço de toda a agitação cultural que marcou a Renascença, nos séculos XV e XVI, e se transformou no ambiente ideal para os artistas. "Eles gozavam de um status social diferente. Eram mais do que artesãos, tinham autonomia sobre a obra", diz o italiano Luciano Migliaccio, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e também da Escola do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Leonardo não era um simples pintor. Era, na verdade, um cientista com criatividade e sensibilidade extraordinárias. Transitava dos desenhos e pinturas aos grandes projetos de engenharia e de arquitetura com extrema facilidade. Quando encasquetava com um problema qualquer, parava tudo o que estava fazendo – gravuras, quadros, projetos – e ia escrever um tratado sobre a questão. Era apaixonado pela natureza. E a tomava como ponto de partida em grande parte de seus estudos e projetos. Um deles, o estudo da anatomia humana, o levou a dissecar cadáveres e a ser perseguido por isso. "Deixo a alma aos monges", costumava dizer. "Leonardo antecipou diversas idéias que foram posteriormente confirmadas pela ciência: algumas leis da dinâmica dos líquidos, a relação entre a Lua e as marés, a circulação do sangue", diz Migliaccio. Michelangelo, ao contrário, era artista em tempo integral. Apesar de se considerar antes de tudo um escultor, também produziu afrescos e realizou experimentos com cores que influenciaram dezenas e dezenas de outros artistas. Nasceu em 1475, em Caprese, no seio de uma família de classe média alta já um tanto decadente. Em decorrência disso, carregava consigo o anseio de nobreza. Primeiro estudou no ateliê do mestre Domenico Ghirlandaio, um pintor famoso por seus murais, nos idos de 1489. Depois, passou a trabalhar para Lorenzo de Médici, talvez o mais destacado mecenas do clã dos Médici. O artista e historiador italiano Giorgio Vasari (1511-1574), contemporâneo de Michelangelo e Leonardo, e autor de Vidas dos Pintores, Escultores e Arquitetos, confirma que Michelangelo tinha um temperamento difícil, irascível e briguento. Os relatos dão conta de um sujeito melancólico, que vivia atormentado por conflitos interiores. Enquanto o vaidoso Leonardo encantava a sociedade intelectual abrindo seu ateliê àqueles que queriam acompanhar seu processo de criação e fazendo do ato de pintar uma verdadeira performance, Michelangelo esculpia sozinho, obstinado, tendo como única companhia a poeira do mármore. Precursor dos workaholics, era capaz de trabalhar até 20 horas por dia e dormir no chão do seu ateliê. Baixinho e um pouco curvado, estava bem longe de ser um homem bonito. Justo ele que, em todas as suas obras, buscava o belo, o sublime, a representação perfeita de idéias perfeitas. Para aumentar a distância entre ele e suas obras, um incidente o marcou – literalmente – para toda a vida. "Numa briga, na adolescência, Michelangelo levou um soco que lhe quebrou o nariz", diz a historiadora Fernanda Mendonça Pitta, doutoranda da Universidade Estadual de Campinas. Mas isso não o impediu de se retratar em algumas obras, como na segunda de suas três Pietà, em que ele aparece como Nicodemos, ajudando Maria a segurar Cristo morto. Michelangelo também deixou seus escritos. Não milhares de páginas de anotações, esboços e tratados como Leonardo. Mas cerca de 300 poemas, entre sonetos, canções e fragmentos. Muitos deles dedicados ao amigo Tommaso Cavalieri, por quem Michelangelo cultivava uma paixão platônica. "Amor, se tu se’ dio,/ non puo’ ciò che tu vuoi?/ Deh fa’ per me, se puoi,/ quel ch’i’ fare’ per te, s’Amor fuss’io...", diz um dos versos. ("Amor, se tu és deus,/ não podes o que desejas?/ Bem faz por mim, se podes,/ como eu faria por ti, se o amor fosse eu..."). "Ele buscou na arte a sublimação dos seus conflitos", afirma a historiadora Liana Ruth Bergstein Rosemberg, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Uerj. (Diferente de Leonardo, que teria imprimido conscientemente às suas pinturas um certo efeito psicológico.) Por causa das constantes viagens a trabalho – para Roma, Milão, Bolonha e para países vizinhos –, decorrência das encomendas dos mecenas, é provável que os dois gênios renascentistas não tenham passado muito tempo juntos em Florença. Se essa relativa distância ajudou ou atrapalhou uma possível aproximação, ninguém pode dizer. Outra coisa sobre a qual é difícil dar certeza é sobre o quanto as diferenças entre ambos – e também o que tinham em comum – colaboraram para a inimizade. Um dos únicos a especular sobre o assunto foi Sigmund Freud. O pai da psicanálise encontrou algumas semelhanças entre ambos: de um lado, os dois tinham dificuldade em lidar com a figura da mãe, ausente em suas infâncias. De outro, os dois eram homossexuais – Leonardo mais bem-resolvido, Michelangelo totalmente enrustido. Essas questões, levantadas por Freud, só ele mesmo explica – a maioria dos historiadores da arte não considera esses aspectos nas suas análises. Para Vasari, porém, a inimizade entre ambos deveu-se a um evento particular: o único encontro casual entre os dois nas ruas de Florença de que se tem notícia. Leonardo passeava com um amigo perto do Palazzo Spini, onde um grupo de homens discutia uma passagem do Inferno, de Dante Aligheri, obra em evidência na época. (Florença vivia um momento de glória: era, ao mesmo tempo, o lar de Michelangelo, Leonardo, Dante, Rafael, Botticelli e vários outros artistas.) À determinada altura, os homens pediram que Leonardo lhes explicasse alguns trechos do Inferno, bem na hora em que Michelangelo passava pelo local. Leonardo, sabendo da admiração do jovem artista por Dante, disse então: "Michelangelo vai explicar para vocês". Pensando que estava sendo ridicularizado, Michelangelo enraiveceu e insultou Leonardo. Criticou a sua obra inacabada mais famosa, o monumental cavalo de bronze encomendado por Ludovico Sforza, duque de Milão: "Explique-se você, que fez um modelo de cavalo que jamais poderia terminar!" Atingido no calo, já em casa, Leonardo viveu um momento de grande baixa autoestima. Escreveu num de seus inúmeros cadernos de anotações: "Conte-me, conte-me se alguma vez eu fiz alguma coisa...", considerando que talvez nada do que fizera na vida até então tivesse valido a pena. Se Michelangelo também escrevia, Leonardo também tinha seus ímpetos. "Há um episódio divertido que aparece em um dos seus blocos de notas", diz a historiadora Liana Rosemberg. Era um sábado santo e um padre fazia a ronda da sua paróquia, abençoando as casas com água benta. Ao entrar na sala do pintor, o padre espalhou água benta sobre algumas obras. "Por que o senhor está molhando as minhas pinturas?", perguntou Leonardo, aborrecido. "Esse é o meu dever", disse o padre, explicando que, segundo a promessa divina, quem pratica o bem na Terra recebe o dobro no Céu. Leonardo esperou o padre terminar a bênção e subiu para a janela da sua casa. De lá, quando o padre saía, despejou uma bacia de água sobre sua cabeça. "Eis o dobro que está vindo de cima em retribuição ao bem que o senhor acabou de me fazer com a água benta, arruinando metade das minhas pinturas." A rivalidade entre os dois artistas se manteve acesa, mas não se tem registro de nenhum outro encontro posterior. Sabe-se que, quando foi a Roma, no outono de 1513, uma das primeiras coisas que Leonardo fez foi dar uma espiadinha nas pinturas da Capela Sistina, concluídas um ano antes. Ele criticava o fato de Michelangelo retratar somente figuras hercúleas, mesmo quando não tinham a ver com o contexto. Sabe-se também que Leonardo participou da comissão que discutiu o lugar ideal para uma das obras-primas de Michelangelo, o Davi, concluído em 1504. Ele conhecia de antemão a fama do jovem escultor que encarou com sucesso o enorme bloco de mármore abandonado havia 40 anos, com o qual nenhum outro artista queria trabalhar. E, mesmo honrando a fama de explosivo, Michelangelo tinha lá seus momentos de bom humor. Na época em que finalizava a estátua de Davi, recebeu a visita de um conhecido. O homem declarou ter gostado muito da estátua, mas apontou um defeito: disse que o nariz estava um pouco grosso. Michelangelo percebeu que, da posição em que o outro estava, era impossível ver o nariz da estátua. Mesmo assim, para não decepcionar o amigo, subiu no apoio e derrubou um pouco de pó de mármore da estátua. E perguntou o que o outro achava da "mudança". "Ah, ficou bem melhor", elogiou o homem. O que parece razoável é pensar que a existência da rivalidade só fez o trabalho de Michelangelo e Leonardo crescer. "As obras deles se tornaram atemporais – e esta é a marca dos gênios", afirma Liana Rosemberg. Que o digam a provocadora Mona Lisa (1506), enigmática como Leonardo, e a última Pietà (1564) de Michelangelo, que transpira a tempestade de emoções e o sofrimento de seu criador.





Pimenta, ela esquenta sua vida



Agora é um bom momento para explorar as qualidades deste fruto poderoso, que mexe com o paladar e o ânimo. Da mais ardida àquela que serve de tira-gosto, descubra como o tempero pode enriquecer sua culinária.

Texto: Chantal Brissac
Revista Bons Fluidos


O inverno está aí. O termômetro baixa e a pimenta entra em alta. “Quem costuma sentir frio pode se beneficiar com a ingestão deste alimento”, explica o acupunturista Antonio José Demian, de São Paulo. Ele apoia seu saber na medicina chinesa, que há muito descobriu a pimenta vermelha como um fator de equilíbrio da energia do corpo.

O nutrólogo João Curvo, do Rio de Janeiro, defende que temperos, temperaturas e temperamentos possuem estreita relação. Ele recomenda que pessoas predominantemente doces comam alimentos mais picantes e ácidos. “Muita doçura as deixa hipersensíveis, vulneráveis às agressões externas.” Já quem tem pavio curto deve evitar a pimenta e saborear itens refrescantes, como saladas de sabor amargo. “Quando utilizamos os temperos de forma adequada, podemos tratar melhor a depressão, a agitação e o amargor da alma”, diz Curvo.

Dono de uma loja na capital paulista com mais de 250 tipos de pimenta, Nelusko Linguanotto Neto credita ao ingrediente outras qualidades. “O que é que a pimenta tem? O dom de trazer vida à mesa.” Deve ser daí que surgiu a expressão “coloque um pouco mais de pimenta em sua rotina”.

O SABOR DE BELÉM
Uma amostra de que o Pará é mesmo o maior produtor de pimenta-do-reino do Brasil (80 mil toneladas por ano) está no mercado Ver-o-Peso, em Belém, com sua profusão de ervas, raízes, condimentos, poções e essências – algumas com propriedades medicinais e muitas (dizem os moradores) com poderes milagrosos.

No meio de alamedas, há um zanzar diário de personagens que vivem da pimenta. Gente como o senhor Osvaldo Pereira Lira (foto), mais conhecido como Galo, 73 anos, há 56 deles como vendedor. Fornecedor de grandes chefs da cozinha paraense (como Fábio Cecília, do tradicional restaurante Don Giusepe), Galo sabe o que é preciso para cada prato e o que cada pimenta pode fazer por ele. “O que é um tacacá, e um pato no tucupi sem a pimenta-de-cheiro?”, pergunta. Além das pequenas notáveis que enchem as bancas como um mosaico colorido em verde, amarelo e vermelho, Galo oferece conservas e molhos em garrafas, que fazem da barraca uma atração à parte.




quarta-feira, 9 de julho de 2008

Há um grande silêncio que está sempre à escuta…

E a gente se põe a dizer inquietamente qualquer coisa,
qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até a tua dúvida metafísica, Hamleto!

E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta…
e cala.

Mário Quintana

segunda-feira, 7 de julho de 2008


Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um pouco de silêncio


Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado.
É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença.
Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse” em loja. Com relação a homem pode até ser libertário: enfim só, ninguém pendurado nele controlando, cobrando, chateando. Enfim, livre!
Mulher, não. Se está só, em nossa mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude.
Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa idéia provoca, queremos ruído, ruídos.
Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:
– Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
Lya Luft

terça-feira, 1 de julho de 2008



O que podemos experimentar de mais intenso do que o mistério que envolve as primeiras horas da manhã de um novo dia?
O que você busca? Aonde quer ir? Que amores pretende viver? Que sonhos busca realizar? Que vida você quer levar?
O que o Rio tem de mais sexy são as possibilidades, aqui tudo pode acontecer, toda busca encontra seu destino.
A cidade te chama e quando você se entrega a ela, sabe que nada mais vai ser como antes. Ela te ensina e você quer aprender.
Nenhum dia precisa ser igual ao outro se você não tiver medo de todas as possibilidades que a cidade tem para te mostrar.

(escrevi para um concurso, dedinhos cruzados )