sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Felicidade Clandestina

Clarice Lispector
In Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro, Rocco, 1998.


Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia:
pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Tempo não para

Uma hora, um minuto, um segundo...
A voz que ecoa em meus ouvidos,
tem a força de um vulcão.
Pouco se fala...
Muito se diz...
Não precisamos de palavras,
a emoção fala por si.
Uma hora, um minuto, um segundo...
E a certeza do amor que entrego a ti.

( Feiticeira da Montanha)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Que aconteça o amor tão esperado, mesmo que tenha passado os séculos, que seja autêntico e vivido em sua plenitude..."

Adoroooooo esse estilo de maquiagem...

Olho gatinho
Um traço simples ou duplo, feito rente aos cílios, é capaz de dar ao olhar um toque misterioso e sensual.
Por Deise Garcia

'O delineador voltou com tudo e é perfeito para o look gatinho', diz a maquiadora da Bourjois Marrie Carraro. 'O traço agora é mais curtinho, bem marcado e para cima, em direção à sobrancelha.' Para melhores efeitos, devem ser levados em conta tamanho e cor dos olhos.

Quem tem olhos grandes deve unir os dois traços (superior e inferior), no tom preto ou em cores intensas.
Quem tem olhos pequenos deve fazer um traço fino bem rente aos cílios e usar lápis claro na borda interna dos olhos para aumentá-los.
Para olhos caídos, vale a dica de elevar um pouco a linha no canto externo e não alongar muito o traço.
Olhos claros combinam com delineador azul e verde, moda no verão que deve seguir pelo outono.

PASSO A PASSO
1. Estique a pele da pálpebra gentilmente. Se puxá-la demais, ao soltar ela voltará toda enrugada, dando a impressão de que você não aplicou direto.
2. Coloque um espelho deitado na mesa e, olhando para ele, passe o delineador bem rente à raiz dos cílios.
3. Aplique o delineador com o pincel de lado e deitado (lembre-se de tirar o excesso do produto no pincel antes da aplicação).
4. Se ainda assim você não conseguir um traço firme, faça o contorno com lápis e depois cubra com delineador.
5. Aplique primeiro o delineador da metade do olho para fora fazendo o 'puxadinho' e, depois, do canto interno para o meio.

( Por Deise Garcia -REVISTA CRIATIVA )

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O que nos fortalece...

Amizade...quanta força essa palavra carrega...ela enche nossa vida, preenche vários vazios que podem nos assustar algumas vezes, é recomendada por cardiologistas porque deixa o coração aquecido, reconfortado, fortalecido...
Amizade unifica, protege, revigora.
Amigos são bens preciosos que devemos cuidar e guardar, em todos os momentos, bons ou ruins, porque amigos sempre estão prontos a dizer e a ouvir qualquer palavra, não apenas aquelas doces e fáceis de serem ditas, mas também e principalmente, palavras que muitas vezes vão machucar para depois nos proteger. Com amigos não tem meio termo, tem união...amor...puxão de orelha...confiança e cumplicidade.
Quando olho para trás e vejo todos os amigos que ganhei....nossa meu coração pula...sério...pula mesmo, foram tantos, e tão fortes, e tão bonitos e leais, chega a dar vontade de chorar. Mesmo que em momentos de minha vida, eu tenha sido mais recolhida, tímida e solitária, sempre tive amigos maiores que qualquer barreira. Mesmo que algumas dessas amizades tenham ficado paradas no meio do caminho, o contato não seja constante, a distância dificulte...a presença dessas pessoas se faz sempre forte, sempre...e o que esses amigos me doaram nunca vai se perder...podem- se passar anos e anos...quando nos falamos, é como se sempre estivéssemos juntos...
Existem forças maiores do que podemos compreender, e na verdade nem precisam ser compreendidas, o ideal é se jogar e sentir o mais intensamente possível...com a amizade é assim, e eu sempre fiz questão de me jogar, viver, confiar e posso dizer que em 90% das vezes deu certo...claro que não pode ser 100%...decepções fazem parte de qualquer processo e nos estimulam a valorizar ainda mais o que temos.
Então...te convido...se jogue...ame sempre...sempre...e admire tudo, mesmo quem está contra você tem qualidades admiráveis, e recomendo: ódio risque do seu vocabulário, palavra feiosinha e pesada, acho estranho pessoas que dizem “ eu odeio”...é muito forte e faz mal pro fígado. Raiva é normal, porque ela passa, vai embora sozinha e cabisbaixa ...Se jogue, se doe sem medo...vale a pena, não deu certo na primeira tentativa, se doe novamente...e assim vc vai construindo as pessoas e sendo construída por elas...é mágico.
Amo meus amigos...e é gostoso!!!

Amigos

Amizade, empatia
As vezes enigmático...
Por vezes nostálgico,
que nos contagia.

As vezes profundo,
Nem sempre presente,
Talvez coerente,
Ou um pouco confuso.

Amigo que ama,
Que sofre ao seu lado,
Tem sempre um recado,
E nunca reclama.

Ao ser cativado,
Ensina e aprende,
Que amar não depende...
De um muito obrigado.


( autora: Feiticeira da Montanha)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Rebolativas


Ainda falando sobre, sonhos, sonecas e acordar feliz....
Tem uma cena do filme “As Panteras”, que eu particularmente gosto muito. Logo no início do filme a Cameron Diaz sonha que está arrasando nas pistas de dança e acorda feliz, levanta sorrindo, rebolativa e dançando ...àh gostei de verdade, e adoro colocar essa cena em prática na minha vida em algumas manhãs. Experimente, é muito bom, principalmente quando você pode ficar se olhando no espelho, ai a vontade de rir aumenta...rsrsrsrsrsrsrsrsrs
Que o mundo tenha mais sorrisos internos e rebolados matinais
Vamos lá...todo mundo rebolando...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Meus sonhos


Não sei se com todos acontece o mesmo, mas tem dias que um sonho me acompanhada durante todo momento...Acho meio incrível esse instante tão íntimo e tão fora de controle, que nos leva a lugares que nem conhecemos, nós traz pessoas queridas ou esquecidas, algumas vezes nos fazendo sentir ate mesmo premonições. Estudiosos não conseguem chegar nem perto do verdadeiro significado dos sonhos, cada um tem uma teoria, e novos pontos de vista surgem a cada dia.
Quando eu era criança, sempre tinha o mesmo sonho todas as noites, era um momento tão mágico, que até hoje sinto um arrepio ao lembrar...não sei se eu acredito, mas era como se esse sonho fosse a lembrança de uma vida anterior...quando fiz sete anos, os sonhos se foram mas me deixaram um certo vazio, queria poder agora conseguir interpretá-los melhor. Quando eu tinha onze anos, sonhei que meu amigo ( e primeira paixonite da infância ) gritava por ajuda, passei aquele dia sentindo meu coraçãozinho tão apertado e no fim da tarde recebi a notícia...mesmo agora, dói ao me lembrar, meu amigo, o menino com quem dancei minha primeira música romântica, tema da novela A Gata Comeu , faleceu ao 13 anos...Foram momentos difíceis aqueles, uma tristeza gigantesca em todos nós, amigos da rua e do bairro, e eu sempre sonhava com ele, meus pais trabalhavam fora e eu ficava em casa sozinha e se dormia à tarde, chegava até a sentir a presença dele, e eu não sabia se gostava ou detestava essa sensação, de ter ele presente. Muitos anos depois, eu ainda sonhava com ele e seu olhar triste.
Sei que em diferentes etapas da minha vida, quando alguma coisa estava pra acontecer ou mudar, sempre existiram os sonhos, em uma das perdas mais tristes que sofri a poucos anos atrás, eu e minha mãe tivemos o mesmo sonho, ligado a pessoa que nos deixou. Mas por favor, existem também, e sobretudo, os sonhos relacionados a instantes de felicidade plena, levaria muito tempo pra contar, sonhos de uma intensidade absurda, nem parecem sonhos...sonhos com a minha metade que faltava...sonhos com a minha afilhada que eu tanto esperava...sonhos com pessoas queridas que ganhei de presente.
A alguns anos, tenho sonhado diariamente com uma amiga de infância que mora em Minas, nossa amizade sempre foi muito forte e bonita, mas infelizmente, depois que me mudei para o Rio e ela se casou, acabamos perdendo o contato, e nos meu sonhos estamos sempre cheias de saudades e novidades para contar...e esse é um dos sonhos que me acompanha o dia inteiro, fico com a lembrança de nossa cumplicidade no coração, e isso torna meu dia mais saudoso e mais bonito...mas sempre fico aqui me perguntando a finalidade desse poder que nos foi dado de viajar no tempo, no espaço, encurtando os caminhos, buscando sentimentos, virando realidade, matando saudades e deixando no peito uma nova emoção sem explicação...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O Caçador de Pipas


Sempre tive um pouco de receio de assistir a filmes baseados em livros, principalmente quando eu gostava muito do livro e já tinha os personagens todos criados aqui na minha imaginação. Quando vinha o filme, pronto, matava tudo que eu tinha criado. Com muitos filme da Agatha Christie, me senti assim. Mas ontem ao ver o filme O Caçador de Pipas, (baseado no livro de mesmo nome do autor Khaled Hosseini), e apesar dos personagens do filme serem completamente diferentes na minha imaginação, confesso que tive uma alegre surpresa, apesar das críticas não favoráveis que li sobre o mesmo, na minha opinião ficou aprovado. O filme deixou certos assuntos abordados no livro de fora, pois o livro também foi bem detalhista em muitos pontos, e fez um apanhado das partes mais significativas. Eu como boa manteiga derretida que sou, chorei rios tanto lendo o livro, quanto assistindo ao filme

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


"Não há paciência para uma paisagem, para um deslumbramento, para um silêncio. Ao menos não aqui, nos trilhos urbanos, onde todos assistem à vida passar como se estivessem na janela de um Trem (...) Empurrados pôr este ritmo alucinante do cotidiano, fazemos uma leitura dinâmica dos fatos (...). Fatos pessoais, diários, que mereceriam uma espiada menos veroz (..) A vida não vem com air-bag: uma freada agora, a esta velocidade, seria fatal. Em frente, então. Mas que cada um saiba criar sua área privativa de descanso: um livro no final da noite, um fim de semana na praia, uma caminhada pela manhã, uma meditação básica. Refúgios que permitam continuar seguindo a viagem sem perder a melhor parte, que é nossa reflexão sobre o que acontece lá fora, já que não dá para saltar deste trem-bala." (Trecho da crônica "Trem-bala") Martha Medeiros publica suas crônicas no Jornal Zero Hora de Porto Alegre

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um conto de Machado de Assis:

O DIPLOMÁTICO


A PRETA entrou na sala de jantar, chegou-se à mesa rodeada de gente,
e falou baixinho à senhora. Parece que lhe pedia alguma cousa urgente, porque
a senhora levantou-se logo.
— Ficamos esperando, D. Adelaide?
— Não espere, não, Sr. Rangel; vá continuando, eu entro depois.
Rangel era o leitor do livro de sortes. Voltou a página, e recitou um
título: "Se alguém lhe ama em segredo." Movimento geral; moças e rapazes
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sorriram uns para os outros. Estamos na noite de São João de 1854, e a casa é
na rua das Mangueiras. Chama-se João o dono da casa, João Viegas, e tem uma
filha, Joaninha. Usa-se todos os anos a mesma reunião de parentes e amigos,
arde uma fogueira no quintal, assam-se as batatas do costume, e tiram-se
sortes. Também há ceia, às vezes dança, e algum jogo de prendas, tudo
familiar. João Viegas é escrivão de uma vara cível da Corte.
— Vamos. Quem começa agora? disse ele. Há de ser D. Felismina.
Vamos ver se alguém lhe ama em segredo.
D. Felismina sorriu amarelo. Era uma boa quarentona, sem prendas
nem rendas, que vivia espiando um marido por baixo das pálpebras devotas.
Em verdade, o gracejo era duro, mas natural. D. Felismina era o modelo
acabado daquelas criaturas indulgentes e mansas, que parecem ter nascido para
divertir os outros. Pegou e lançou os dados com um ar de complacência
incrédula. Número dez, bradaram duas vozes. Rangel desceu os olhos ao baixo
da página, viu a quadra correspondente ao número, e leu-a: dizia que sim, que
havia uma pessoa, que ela devia procurar domingo, na igreja, quando fosse à
missa. Toda a mesa deu parabéns a D. Felismina, que sorriu com desdém, mas
interiormente esperançada.
Outros pegaram nos dados, e Rangel continuou a ler a sorte de cada
um. Lia espevitadamente. De quando em quando, tirava os óculos e limpava-os
com muito vagar na ponta do lenço de cambraia, — ou por ser cambraia, — ou
por exalar um fino cheiro de bogari. Presumia de grande maneira, e ali
chamavam-lhe "o diplomático".
— Ande, seu diplomático, continue.
Rangel estremeceu; esquecera-se de ler uma sorte, embebido em
percorrer a fila de moças que ficava do outro lado da mesa. Namorava alguma?
Vamos por partes.
Era solteiro, por obra das circunstâncias, não de vocação. Em rapaz
teve alguns namoricos de esquina, mas com o tempo apareceu-he a comichão
das grandezas, e foi isto que lhe prolongou o celibato até os quarenta e um
anos, em que o vemos. Cobiçava alguma noiva superior a ele e à roda em que
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vivia, e gastou o tempo em esperá-la. Chegou a freqüentar os bailes de um
advogado célebre e rico, para quem copiava papéis, e que o protegia muito.
Tinha nos bailes a mesma posição subalterna do escritório; passava a noite
vagando pelos corredores, espiando o salão, vendo passar as senhoras,
devorando com os olhos uma multidão de espáduas magníficas e talhes
graciosos. Invejava os homens, e copiava-os. Saía dali excitado e resoluto. Em
falta de bailes, ia às festas de igreja, onde poderia ver algumas das primeiras
moças da cidade. Também era certo no saguão do paço imperial, em dia de
cortejo, para ver entrar as grandes damas e as pessoas da corte, ministros,
generais, diplomatas, desembargadores, e conhecia tudo e todos, pessoas e
carruagens. Voltava da festa e do cortejo, como voltava do baile, impetuoso,
ardente, capaz de arrebatar de um lance a palma da fortuna.
O pior é que entre a espiga e a mão há o tal muro do poeta, e o Rangel
não era homem de saltar muros. De imaginação fazia tudo, raptava mulheres e
destruía cidades. Mais de uma vez foi, consigo mesmo, ministro de Estado, e
fartou-se de cortesias e decretos. Chegou ao extremo de aclamar-se imperador,
um dia, 2 de dezembro, ao voltar da parada no largo do Paço; imaginou para
isso uma revolução, em que derramou algum sangue, pouco, e uma ditadura
benéfica, em que apenas vingou alguns pequenos desgostos de escrevente. Cá
fora, porém, todas as suas proezas eram fábulas. Na realidade, era pacato e
discreto.
Aos quarenta anos desenganou-se das ambições; mas a índole ficou a
mesma, e, não obstante a vocação conjugal, não achou noiva. Mais de uma o
aceitaria com muito prazer; ele perdia-as todas, à força de circunspecção. Um
dia, reparou em Joaninha, que chegava aos dezenove anos e possuía um par de
olhos lindos e sossegados, — virgens de toda a conversação masculina. Rangel
conhecia-a desde criança, andara com ela ao colo, no Passeio Público, ou nas
noites de fogo da Lapa; como falar-lhe de amor? Mas, por outro lado, as
relações dele na casa eram tais, que podiam facilitar-lhe o casamento; e, ou
este ou nenhum outro.
Desta vez, o muro não era alto, e a espiga era baixinha; bastava esticar
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o braço com algum esforço, para arrancá-la do pé. Rangel andava neste
trabalho desde alguns meses. Não esticava o braço, sem espiar primeiro para
todos os lados, a ver se vinha alguém, e, se vinha alguém, disfarçava e ia-se
embora. Quando chegava a esticá-lo, acontecia que uma lufada de vento
meneava a espiga ou algum passarinho andava ali nas folhas secas, e não era
preciso mais para que ele recolhesse a mão. Ia-se assim o tempo, e a paixão
entranhava-se-lhe, causa de muitas horas de angústia, a que seguiam sempre
melhores esperanças. Agora mesmo traz ele a primeira carta de amor, disposto
a entregá-la. Já teve duas ou três ocasiões boas, mas vai sempre espaçando; a
noite é tão comprida! Entretanto, continua a ler as sortes, com a solenidade de
um áugur.
Tudo, em volta, é alegre. Cochicham ou riem, ou falam ao mesmo
tempo. O tio Rufino, que é o gaiato da família, anda à roda da mesa com uma
pena, fazendo cócegas nas orelhas das moças. João Viegas está ansioso por um
amigo, que se demora, o Calisto. Onde se meteria o Calisto?
— Rua, rua, preciso da mesa; vamos para a sala de visitas.
Era D. Adelaide que tornava; ia pôr-se a mesa para a ceia. Toda a
gente emigrou, e andando é que se podia ver bem como era graciosa a filha do
escrivão. Rangel acompanhou-a com grandes olhos namorados. Ela foi à
janela, por alguns instantes, enquanto se preparava um jogo de prendas, e ele
foi também; era a ocasião de entregar-lhe a carta.
Defronte, numa casa grande, havia um baile, e dançava-se. Ela olhava,
ele olhou também. Pelas janelas viam passar os pares, cadenciados, as senhoras
com as suas sedas e rendas, os cavalheiros finos e elegantes, alguns
condecorados. De quando em quando, uma faísca de diamantes, rápida,
fugitiva, no giro da dança. Pares que conversavam, dragonas que reluziam,
bustos de homem inclinados, gestos de leques, tudo isso em pedaços, através
das janelas, que não podiam mostrar todo o salão, mas adivinhava-se o resto.
Ele ao menos conhecia tudo, e dizia tudo à filha do escrivão. O demônio das
grandezas, que parecia dormir, entrou a fazer as suas arlequinadas no coração
do nosso homem, e ei-lo que tenta seduzir também o coração da outra.
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— Conheço uma pessoa que estaria ali muito bem, murmurou Rangel.
E Joaninha, com ingenuidade:
— Era o senhor.
Rangei sorriu lisonjeado, e não achou que dizer. Olhou para os lacaios
e cocheiros, de libré, na rua conversando em grupos ou reclinados no tejadilho
dos carros. Começou a designar carros: este é do Olinda, aquele é do
Maranguape; mas aí vem outro, rodando, do lado da rua da Lapa, e entra na rua
das Mangueiras. Parou defronte: salta o lacaio, abre a portinhola, tira o chapéu
e perfila-se. Sai de dentro uma calva, uma cabeça, um homem, duas comendas,
depois uma senhora ricamente vestida; entram no saguão, e sobem a escadaria,
forrada de tapete e ornada embaixo com dois grandes vasos.
— Joaninha, Sr. Rangel...
Maldito jogo de prendas! Justamente quando ele formulava, na cabeça,
uma insinuação a propósito do casal que subia, e ia assim passar naturalmente
à entrega da carta... Rangel obedeceu, e sentou-se defronte da moça. D.
Adelaide, que dirigia o jogo de prendas, recolhia os nomes; cada pessoa devia
ser uma flor. Está claro que o tio Rufino, sempre gaiato, escolheu para si a flor
da abóbora. Quanto ao Rangel, querendo fugir ao trivial, comparou
mentalmente as flores, e quando a dona da casa lhe perguntou pela dele,
respondeu com doçura e pausa:
— Maravilha, minha senhora.
— O pior é não estar cá o Calisto! suspirou o escrivão.
— Ele disse mesmo que vinha?
— Disse; ainda ontem foi ao cartório, de propósito, avisar-me de que
viria tarde, mas que contasse com ele: tinha de ir a uma brincadeira na rua da
Carioca...
— Licença para dous! bradou uma voz no corredor.
— Ora graças! está aí o homem!
João Viegas foi abrir a porta; era o Calisto, acompanhado de um rapaz
estranho, que ele apresentou a todos em geral: — "Queirós, empregado na
Santa Casa; não é meu parente, apesar de se parecer muito comigo; quem vê
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um, vê outro..." Toda a gente riu; era uma pilhéria do Calisto, feio como o
diabo, — ao passo que o Queirós era um bonito rapaz de vinte e seis a vinte e
sete anos, cabelo negro, olhos negros e singularmente esbelto. As moças
retraíram-se um pouco; D. Felismina abriu todas as velas.
— Estávamos jogando prendas, os senhores podem entrar também,
disse a dona da casa. Joga, Sr. Queirós?
Queirós respondeu afirmativamente e passou a examinar as outras
pessoas. Conhecia algumas, e trocou duas ou três palavras com elas. Ao João
Viegas disse que desde muito tempo desejava conhecê-lo, por causa de um
favor que o pai lhe deveu outrora, negócio de foro. João Viegas não se
lembrava de nada, nem ainda depois que ele lhe disse o que era; mas gostou de
ouvir a notícia, em público, olhou para todos, e durante alguns minutos
regalou-se calado.
Queirós entrou em cheio no jogo. No fim de meia hora, estava familiar
da casa. Todo ele era ação, falava com desembaraço, tinha os gestos naturais e
espontâneos. Possuía um vasto repertório de castigos para jogo de prendas,
coisa que encantou a toda a sociedade, e ninguém os dirigia melhor, com tanto
movimento e animação, indo de um lado para outro, concertando os grupos,
puxando cadeiras, falando às moças, como se houvesse brincado com elas em
criança.
— D. Joaninha aqui, nesta cadeira; D. Cesária, deste lado, em pé, e o
Sr. Camilo entra por aquela porta... Assim, não: olhe, assim de maneira que...
Teso na cadeira, o Rangel estava atônito. Donde vinha esse furacão? E
o furacão ia soprando, levando os chapéus dos homens, e despenteando as
moças, que riam de contentes: Queirós daqui, Queirós dali, Queirós de todos os
lados. Rangel passou da estupefação à mortificação. Era o cetro que lhe caía
das mãos. Não olhava para o outro, não se ria do que ele dizia, e respondia-lhe
seco. Interiormente, mordia-se e mandava-o ao diabo, chamava-o bobo alegre,
que fazia rir e agradava, porque nas noites de festa tudo é festa. Mas, repetindo
essas e piores coisas, não chegava a reaver a liberdade de espírito. Padecia
deveras, no mais íntimo do amor-próprio; e o pior é que o outro percebeu toda
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essa agitação, e o péssimo é que ele percebeu que era percebido.
Rangel, assim como sonhava os bens, assim também as vinganças. De
cabeça, espatifou o Queirós; depois cogitou a possibilidade de um desastre
qualquer, uma dor bastava, mas cousa forte, que levasse dali aquele intruso.
Nenhuma dor, nada; o diabo parecia cada vez mais lépido, e toda a sala
fascinada por ele. A própria Joaninha, tão acanhada, vibrava nas mãos de
Queirós, como as outras moças; e todos, homens e mulheres, pareciam
empenhados em servi-lo. Tendo ele falado em dançar, as moças foram ter com
o tio Rufino, e pediram que tocasse uma quadrilha na flauta, uma só, não se lhe
pedia mais.
— Não posso, dói-me um calo.
— Flauta? bradou o Calisto. Peçam ao Queirós que nos toque alguma
coisa, e verão o que é flauta... Vai buscar a flauta, Rufino. Ouçam o Queirós.
Não imaginam como ele é saudoso na flauta!
Queirós tocou a Casta Diva. Que cousa ridícula! dizia consigo o
Rangel — uma música que até os moleques assobiam na rua. Olhava para ele,
de revés, para considerar se aquilo era posição de homem sério; e concluía que
a flauta era um instrumento grotesco. Olhou também para Joaninha, e viu que,
como todas as outras pessoas, tinha a atenção no Queirós, embebida, namorada
dos sons da música, e estremeceu, sem saber por quê. Os demais semblantes
mostravam a mesma expressão dela, e, contudo, sentiu alguma coisa que lhe
complicou a aversão ao intruso. Quando a flauta acabou, Joaninha aplaudiu
menos que os outros, e Rangel entrou em dúvida se era o habitual
acanhamento, se alguma especial comoção... Urgia entregar-lhe a carta.
Chegou a ceia. Toda a gente entrou confusamente na sala, e felizmente
para o Rangel, coube-lhe ficar defronte de Joaninha, cujos olhos estavam mais
belos que nunca e tão derramados, que não pareciam os do costume. Rangel
saboreou-os caladamente, e reconstruiu todo o seu sonho que o diabo do
Queirós abalara com um piparote. Foi assim que tornou a ver-se, ao lado dela,
na casa que ia alugar, berço de noivos, que ele enfeitou com os ouros da
imaginação. Chegou a tirar um prêmio na loteria e a empregá-lo todo em sedas
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e jóias para a mulher, a linda Joaninha — Joaninha Rangel — D. Joaninha
Rangel — D. Joana Viegas Rangel — ou D. Joana Cândida Viegas Rangel...
Não podia tirar o Cândida...
— Vamos, uma saúde, seu diplomático... faça uma saúde daquelas...
Rangel acordou; a mesa inteira repetia a lembrança do tio Rufino; a
própria Joaninha pedia-lhe uma saúde, como a do ano passado. Rangel
respondeu que ia obedecer; era só acabar aquela asa de galinha. Movimento,
cochichos de louvor; D. Adelaide, dizendo-lhe uma moça que nunca ouvira
falar o Rangel:
— Não? perguntou com pasmo. Não imagina; fala muito bem, muito
explicado, palavras escolhidas, e uns bonitos modos...
Comendo, ia ele dando rebate a algumas reminiscências, frangalhos de
idéias, que lhe serviam para o arranjo das frases e metáforas. Acabou e pôs-se
de pé. Tinha o ar satisfeito e cheio de si. Afinal, vinham bater-lhe à porta.
Cessara a farandolagem das anedotas, das pilhérias sem alma, e vinham ter
com ele para ouvir alguma cousa correta e grave. Olhou em derredor, viu todos
os olhos levantados, esperando. Todos não; os de Joaninha enviesavam-se na
direção do Queirós, e os deste vinham esperá-los a meio caminho, numa
cavalgada de promessas. Rangel empalideceu. A palavra morreu-lhe na
garganta; mas era preciso falar, esperavam por ele, com simpatia, em silêncio.
Obedeceu mal. Era justamente um brinde ao dono da casa e à filha.
Chamava a esta um pensamento de Deus, transportado da imortalidade à
realidade, frase que empregara três anos antes, e devia estar esquecida. Falava
também do santuário da família, do altar da amizade, e da gratidão, que é a flor
dos corações puros. Onde não havia sentido, a frase era mais especiosa ou
retumbante. Ao todo, um brinde de dez minutos bem puxados, que ele
despachou em cinco e sentou-se.
Não era tudo. Queirós levantou-se logo, dois ou três minutos depois,
para outro brinde, e o silêncio foi ainda mais pronto e completo. Joaninha
meteu os olhos no regaço, vexada do que ele iria dizer; Rangel teve um arrepio.
— O ilustre amigo desta casa, o Sr. Rangel — disse Queirós, — bebeu
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às duas pessoas cujo nome é o do santo de hoje; eu bebo àquela que é a santa
de todos os dias, a D. Adelaide.
Grandes aplausos aclamaram esta lembrança, e D. Adelaide,
lisonjeada, recebeu os cumprimentos de cada conviva. A filha não ficou em
cumprimentos. — Mamãe! mamãe! exclamou, levantando-se; e foi abraçá-la e
beijá-la três e quatro vezes; — espécie de carta para ser lida por duas pessoas.
Rangel passou da cólera ao desânimo, e, acabada a ceia, pensou em
retirar-se. Mas a esperança, demônio de olhos verdes, pediu-lhe que ficasse, e
ficou. Quem sabe? Era tudo passageiro, cousas de uma noite, namoro de São
João; afinal, ele era amigo da casa, e tinha a estima da família; bastava que
pedisse a moça, para obtê-la. E depois esse Queirós podia não ter meios de
casar. Que emprego era o dele na Santa Casa? Talvez alguma cousa reles...
Nisto, olhou obliquamente para a roupa de Queirós, enfiou-se-lhe pelas
costuras, escrutou o bordadinho da camisa, apalpou os joelhos das calças, a
ver-lhe o uso, e os sapatos, e concluiu que era um rapaz caprichoso, mas
provavelmente gastava tudo consigo, e casar era negócio sério. Podia ser
também que tivesse mãe viúva, irmãs solteiras... Rangel era só.
— Tio Rufino, toque uma quadrilha.
— Não posso; flauta depois de comer faz indigestão. Vamos a um
víspora.
Rangel declarou que não podia jogar, estava com dor de cabeça: mas
Joaninha veio a ele e pediu-lhe que jogasse com ela, de sociedade. — "Meia
coleção para o senhor, e meia para mim", disse ela, sorrindo; ele sorriu também
e aceitou. Sentaram-se ao pé um do outro. Joaninha falava-lhe, ria, levantava
para ele os belos olhos, inquieta, mexendo muito a cabeça para todos os lados.
Rangel sentiu-se melhor, e não tardou que se sentisse inteiramente bem. Ia
marcando à toa, esquecendo alguns números, que ela lhe apontava com o dedo,
— um dedo de ninfa, dizia ele, consigo; e os descuidos passaram a ser de
propósito, para ver o dedo da moça, e ouvi-la ralhar: "O senhor é muito
esquecido; olhe que assim perdemos o nosso dinheiro..."
Rangel pensou em entregar-lhe a carta por baixo da mesa; mas não
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estando declarados, era natural que ela a recebesse com espanto e estragasse
tudo; cumpria avisá-la. Olhou em volta da mesa: todos os rostos estavam
inclinados sobre os cartões, seguindo atentamente os números. Então, ele
inclinou-se à direita, e baixou os olhos aos cartões de Joaninha, como para
verificar alguma coisa.
— Já tem duas quadras, cochichou ele.
— Duas, não; tenho três.
— Três, é verdade, três. Escute...
— E o senhor?
— Eu duas.
— Que duas o quê? São quatro.
Eram quatro; ela mostrou-lhas inclinada, roçando quase a orelha pelos
lábios dele; depois, fitou-o rindo e abanando a cabeça: "O senhor! o senhor!"
Rangel ouviu isto com singular deleite; a voz era tão doce, e a expressão tão
amiga, que ele esqueceu tudo, agarrou-a pela cintura, e lançou-se com ela na
eterna valsa das quimeras. Casa, mesa, convivas, tudo desapareceu, como obra
vã da imaginação, para só ficar a realidade única, ele e ela, girando no espaço,
debaixo de um milhão de estrelas, acesas de propósito para alumiá-los.
Nem carta, nem nada. Perto da manhã foram todos para a janela ver
sair os convidados do baile fronteiro. Rangel recuou espantado. Viu um aperto
de dedos entre o Queirós e a bela Joaninha. Quis explicá-lo, eram aparências,
mas tão depressa destruía uma como vinham outras e outras, à maneira das
ondas que não acabam mais. Custava-lhe entender que uma só noite, algumas
horas bastassem a ligar assim duas criaturas; mas era a verdade clara e viva dos
modos de ambos, dos olhos, das palavras, dos risos, e até da saudade com que
se despediram de manhã.
Saiu tonto. Uma só noite, algumas horas apenas! Em casa, aonde
chegou tarde, deitou-se na cama, não para dormir, mas para romper em
soluços. Só consigo, foi-se-lhe o aparelho da afetação, e já não era o
diplomático, era o energúmeno, que rolava na casa, bradando, chorando como
uma criança, infeliz deveras, por esse triste amor do outono. O pobre-diabo,
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feito de devaneio, indolência e afetação, era, em substância, tão desgraçado
como Otelo, e teve um desfecho mais cruel.
Otelo mata Desdêmona; o nosso namorado, em quem ninguém
pressentira nunca a paixão encoberta, serviu de testemunha ao Queirós, quando
este se casou com Joaninha, seis meses depois.
Nem os acontecimentos, nem os anos lhe mudaram a índole. Quando
rompeu a guerra do Paraguai, teve idéia muitas vezes de alistar-se como oficial
de voluntários; não o fez nunca; mas é certo que ganhou algumas batalhas e
acabou brigadeiro.

(Machado de Assis)

Como ter um bom dia...



Acorde em festa....acorde com um sorriso largo, abra a janela deixe o dia entrar, faça uma oração, agradeça sempre...ligue a tv ou coloque uma música, deixe o som fazer parte da sua manhã. Tome banho cantando e escove os dentes gargalhando...se admire no espelho, se perfume, se hidrate, se toque ...coloque uma roupa escândalo, admire o céu antes de sair de casa...olhe além...e tome aquele café da manhã luxo total...ai delícia!!!!!
Acorde em festa...e seja a festa de alguém!!!!!

Beijosssss

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

"Existe um fato evidente que parece inteiramente moral: é que um homem é sempre a presa de suas verdades. Uma vez reconhecidas, ele não saberia se desligar delas. E é preciso pagar um tanto por isso. Um homem que tomou consciência do absurdo se vê atado a ele para sempre. Um homem sem esperança e consciente de sê-lo não pertence mais ao futuro. Isso está na ordem. Mas está igualmente na ordem que ele se esforce por escapar ao universo de que é criador. " (Albert Camus, em "O Mito de Sísifo").
Um trecho de Luis Fernando Verissimo pra acalmar teu coração:

"Pros erros há perdão,
pros fracassos,chances.
Pros amores impossíveis,tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance
Não deixe que a saudade sufoque,que a rotina acomode,que o medo impeça de
tentar..."

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Tá limpo


Texto: Inês de Castro
Fotos Adel | Awad Still
Carlos Cubi
Revista: Elle

Limpar, tonificar, hidratar e renovar. Em dias de altíssima poluição, umidade relativa do ar em oscilação e muito stress, essas quatro ações garantem aquilo com que a gente sonha para a pele: juventude. Afinal, não adianta nada investir uma fortuna em cremes de alta performance ou ácidos revolucionários se a higiene não é respeitada. ELLE entrevistou dermatologistas campeãs e garimpou produtos eficazes para dar ao seu rosto o melhor. Experimente.

Limpeza: operação diária
Você tem aflição de sair de casa com o cabelo mais ou menos limpo? Com o rosto deveria ser a mesma coisa. Mas como escolher um bom limpador? De acordo com a dra. Ligia Kogos, de São Paulo, dermatologista da apresentadora Eliana, além de muitas globais e socialites, ele simplesmente tem de ter poder de limpeza. “Não adianta escolher produtos muito suaves, achando que serão menos agressivos, se eles não cumprem a função de retirar as impurezas dos poros”, explica. Para Adriana Vilarinho, dermatologista de São Paulo que trata do rosto de nove entre dez modelos (entre elas a übermodel Gisele Bündchen), alguns maus hábitos também precisam ser policiados. “Tem gente que acha que basta usar um sabonete facial várias vezes por dia. Se ele não for adequado, pode acabar ressecando ou desidratando o rosto e até desequilibrar o pH da pele”, adverte.

Tônico: ritual completo
Pouca gente se dá ao trabalho de usar um tônico para finalizar a operação de limpeza. É verdade que a loção, o gel ou o leite de limpeza têm uma ação detergente e removem as impurezas acumuladas no rosto. Entretanto, muitas vezes deixam resíduos que acabam obstruindo os poros. “Usar um limpador e dispensar o tônico pode desequilibrar o pH, ressecando e dando a sensação de repuxamento”, explica a dermatologista Doris Hexsel, de Porto Alegre. “Para as peles normais, o tônico normaliza o pH e, por isso, dispensa muito álcool na fórmula. As oleosas pedem um produto com a concentração de 50% de álcool, que ajuda a retirar os resíduos de gordura. As secas exigem um tônico com ativos hidratantes que têm a função de acalmar e amaciar”, recomenda.
Máscaras: toque de classe
O sonho de toda mulher é mergulhar de vez em quando numa sessão agora-vou-cuidar-de-mim. E uma das imagens que vêm à cabeça é o rosto coberto por uma máscara. Ter uma esteticista à disposição para aplicar o produto seria o ideal. Mas quase nunca dá tempo, o que não precisa ser mais um motivo de stress em sua vida. Há produtos que cumprem o papel de dar um up no visual, recuperando o viço e a luminosidade. Portanto, uma vez por semana vale reservar um tempinho para cobrir o rosto com uma máscara adequada a sua necessidade.
Exfoliação: faxina completa
Nem todo capricho na limpeza diária ou a aplicação de uma máscara fazem com que certas peles respondam com um aspecto liso, uniforme e luminoso. Elas precisam de algo a mais: a renovação. “A exfoliação é um tipo de peeling muitíssimo suave, pois as pequenas esferas dos produtos removem as células mortas, que são mais superficiais. Isso ajuda a tornar a pele, mesmo a normal e sem problemas, mais receptiva aos cremes de tratamento”, afirma a dermatologista Ana Lucia Recio, de São Paulo, que trata do rosto impecável da atriz Bia Seidl. Mas o exfoliante é um cosmético que exige cuidado no uso. “Pessoas que sofrem com ressecamento e irritação devem consultar um dermatologista antes de adotar um exfoliante para evitar agressões e irritações no rosto. E, mesmo assim, jamais usar em excesso”, alerta a dermatologista Patrícia Rittes, de São Paulo. A maioria dos médicos indica o uso do produto semanalmente para peles normais, uma vez a cada cinco dias para as oleosas e entre 30 e 45 dias para as secas. Ligia Kogos acrescenta: “O exfoliante é eficaz contra cravos pretos no nariz, na testa e no queixo. Mas é contra-indicado no caso de quem usa produtos com ácido retinóico, que já promove uma descamação, só que num nível muito mais profundo”.
Demaquiante: necessidades especiais
A maquiagem é a nossa companheira inseparável. Quem consegue dispensar um batom ou um rímel? Assim como fazem toda a diferença no seu look, podem virar vilãs se não forem retiradas com o devido cuidado. O demaquiante deve ser escolhido de acordo com os cosméticos que a gente usa. “Maquiagem composta de pó, blush, batom e rímel leve sai com creme, espuma, gel de limpeza ou sabonete dermatológico. Mas rímel à prova d’água pede um removedor especial”, recomenda Ligia. “O make up para a região dos olhos contém maior concentração de pigmentos e fixadores. Portanto, não dá para abrir mão de um produto formulado com uma boa quantidade de óleo”, completa Doris Hexsel. Para saber se você está fazendo a escolha certa, a dermatologista Patricia Rittes ensina um truque infalível: “O bom demaquiante remove a maquiagem rapidamente e sem causar irritações. Se você precisa ficar esfregando, troque de produto”.

Por que ainda somos tão românticas?

Texto: Cacilda Guerra
Revista Bons Fluidos

Era uma vez um jovem de um vilarejo inglês que partiu para uma viagem cheia de perigos rumo a um reino habitado por bruxas, fadas, magos, duendes e unicórnios. O motivo: buscar uma estrela cadente para presentear a mulher amada. O enredo faz parte do universo dos contos de fadas, só que em versão para adultos. Trata-se de Stardust ­ publicado em 2001 pela ed. Conrad e escrito por Neil Gaiman, o queridinho do mundo dos quadrinhos. Agora, ele vai para o cinema ­ de acordo com o site oficial, o filme estréia em 10 de agosto, com um elenco de grandes nomes: Michelle Pfeiffer, Robert de Niro e Claire Danes.
Em meados dos anos 1980, o roteirista Neil Gaiman lançou seu primeiro livro de quadrinhos pelo selo Vertigo, da americana DC Comics. A idéia era agradar ao público já crescido, uma vez que a DC faz gibis de super-heróis. Deu certo, e exatamente porque Gaiman fisgou o leitor com suas histórias, que permeiam os contos de fadas, os sonhos e a magia, e agradou em cheio às mulheres, que têm se tornado, nos últimos anos, leitoras vorazes desse tipo de literatura. Como isso foi possível? Em Stardust, por exemplo, Gaiman explora com sensibilidade temas que, desde sempre, atraem o universo feminino: o romantismo, o príncipe encantado, a promessa de um grande amor.
Em meio à conquista da mulher no mercado de trabalho, na política e áreas afins, fica difícil não questionar: por que, afinal, continuamos tão românticas?

ENREDO MELOSO
Atire o primeiro saquinho de pipoca quem, no escurinho do cinema, nunca se emocionou com uma história de amor bem contada. Do cult Casablanca ao recente Um Lugar na Platéia, passando por campeões de bilheteria, como Uma Linda Mulher e Quatro Casamentos e Um Funeral, os encontros e desencontros desses e outros enredos românticos nos tocam porque a vivência amorosa faz parte do repertório de experiências de pessoas de todas as épocas. Basta lembrar os inúmeros casais que povoam a imaginação desde tempos remotos: Ulisses e Penélope, Tristão e Isolda, Marco Antônio e Cleópatra, Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta, Cinderela e o Príncipe, Spencer Tracy e Katherine Hepburn... “Não importa se são pessoas reais ou fictícias, figuras históricas ou míticas. Suas paixões, êxtases, fidelidade ou traição, dores e despedidas, a história, enfim, desses amores exerce um profundo fascínio sobre todos nós”, escreve a psicóloga Noely Montes Moraes em seu livro Fica Comigo para o Café da Manhã (ed. Olho d’Água).
Embora o amor seja um fenômeno universal, Noely explica que ele adquire formas de expressão condicionadas pela cultura. Algumas, como filmes e músicas, têm uma influência limitada ao período de seu surgimento, enquanto os mitos e os contos de fadas, por abordarem aspectos perenes, ultrapassam a época e as fronteiras geográficas, inspirando o imaginário e o comportamento de inúmeras gerações.
ULTRA-ROMÂNTICOS
Herdamos um jeito de encarar o amor que, embora já aparecesse em algumas obras literárias de períodos anteriores, reinou com força total entre o século 18 e o 19, com o romantismo. Esse movimento estético criou um modelo de arte e estilo de vida cujas características principais eram a idealização da realidade, a tendência ao sonho e o predomínio do sentimento sobre a razão. O amor era sublime e rimava com dor, renúncia e, às vezes, até com morte. E, quando dava certo, era um passaporte para a felicidade, ainda que conquistado apenas depois de muito sacrifício.
Só que, nos contos e romances com final feliz, não aparece um detalhe fundamental: a vida continua depois do The End. Não existe o “foram felizes para sempre” como uma meta a ser alcançada e pronto, sem que seja preciso cultivar a relação no cotidiano. Além do mais, nem sempre o amor transcorre como pensávamos. Com o passar do tempo, as pessoas mudam, assim como as circunstâncias que envolvem a convivência a dois. Não é difícil supor, por exemplo, que Romeu e Julieta, se não tivessem tido um fim trágico, provavelmente viveriam às turras, um criticando a família do outro o tempo todo.
Contudo, por acreditar que a vida real deve seguir o mesmo roteiro da ficção, muitas mulheres criam expectativas exageradas sobre a realização afetiva, reunidas num pacote que inclui não só o amor eterno como também o parceiro ideal e o relacionamento perfeito. “Crescemos iludidas por esses contos e histórias, e precisamos nos desiludir, lidar com nossas questões amorosas no mundo real, não num mundo idealizado”, aconselha a psicóloga Lúcia Rosenberg. O que não significa, em absoluto, levantar e defender a bandeira do anti-romantismo, sufocar todo e qualquer sonho e abrir mão da capacidade de se deixar encantar.
MENOS AÇÚCAR, MAIS AFETO
Haveria, então, uma alternativa ao “romantismo água com açúcar”? A resposta é sim: um romantismo maduro, baseado na realidade da vida, e não em fantasias e desejos impossíveis de concretizar. Viver isso é cuidar de quem se ama, ter prazer em descobrir como o parceiro é e se permitir ser descoberta por ele, revelar-se (em vez de esperar que ele adivinhe) e permitir que ele se revele. É um encontro que se caracteriza pela maleabilidade, pela aceitação do outro, pela flexibilidade em saber fazer concessões.
Praticar esse romantismo maduro garante que a relação seja mais duradoura? Isso é um mistério. Que ajuda, não há dúvida, como exemplifica a psicóloga Lúcia: “Em geral, a primeira coisa de que as pessoas esquecem, depois de conquistar o parceiro e começar uma convivência mais íntima, é usar o ‘por favor’ e o ‘muito obrigado’, como se essas delicadezas não fossem mais necessárias. O romântico maduro faz diferente: se preocupa em demonstrar gentileza, em se cuidar para o outro. Com isso, a chama do amor tem boas chances de se manter acesa por anos”.
No entanto, pode acontecer de o casal estar atento a esses pequenos cuidados mútuos e, ainda assim, a relação chegar ao fim ­ e não necessariamente porque surgiu uma terceira pessoa. É que existe outra realidade que o romantismo água com açúcar, traiçoeiro como é, não nos ensinou a aceitar: como tudo que é vivo, o amor também morre. Mas ninguém precisa morrer junto com ele. É por isso que a gente parte para outras. Afinal, amar é bom e, pensando bem, por que não viver vários amores sucessivos, em vez de apostar apenas em um único, eleito como “o verdadeiro”? Para o romântico maduro, todos os amores, independentemente da duração, são sempre verdadeiros.

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema
Amor e Sexo, Rita Lee

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Muita diversão e energia!!!!!

Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.

( Clarice Lispector)