terça-feira, 30 de dezembro de 2008


"Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA..."

Mário Quintana

E está chegando 2009...tim-tim

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008


Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. Cora Coralina

terça-feira, 23 de dezembro de 2008


...Tempo de sonhar...renovar a fé e acreditar que tudo é possível...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


Chega um dia em que já não importa que tudo fique assim. num alpendre de cal sobre uma ravina. por um transtorno do pensamento. tonto. tanto. de tanto que se pensa. e não se diz. e não se faz. monólogos em círculos rápidos. incisivos. espasmódicos. e a invisibilidade das brechas. quando o pensamento não acompanha o passo. o pensamento largo e o passo curto. o espaço entre. a distância volúvel na travessia do medo. a percepção do outro em dimensões absurdas. como se alguém pudesse ser asa plana. ou luz própria de um clarão definitivo. o desacerto a ser só uma breve pausa no cume da respiração. tão imperceptível que só o ar a sustenta. enquanto se força a compreensão e derrete o gelo. e depois a vida. exposta a três dimensões. e eu plana e líquida. a encolher-me para me descolar. mas a vida é uma ravina onde escorrego e me desminto. e assim me adentro como personagem de um filme dramático. ainda tento a reconstituição de um deslumbre. as pequenas e as grandes cenas. nesta minha propensão para desfazer brumas e conspirar cenários. depois subtraio-me à ilusão e fico-me pelo movimento lentíssimo que desenha o dia a preto e branco.
.

Maria José Quintela.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Achei uma matéria no site Bolsa de Mulher sobre um astrólogo, Shelley von Strunckel, de Londres, que realizava 'degustações astrológicas'. Muito interessante...confiram e divirtam-se!

Áries (20/03 a 20/04):
é chegado aos sabores pungentes, picantes e, assim, um Gewurztraminer da Alsácia seria a escolha ideal.

Touro (21/04 a 20/05):
gosta de sabores doces. Logo um Sauternes, um Tokay ou um alemão Trockenbeerenauslese.

Gêmeos (21/05 a 20/06):
fica com os vinhos mais vivos, ácidos e gelados. Para ele, um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia.

Câncer (21/06 a 21/07):
prefere vinhos mais suaves, até aguados, diluídos, como o baratíssimo Liebfraumilch.

Leão (22/07 a 22/08):
adora sabores muito ricos, apetitosos, como os de um Madeira Sercial.

Virgem (23/08 a 22/09):
insiste em paladares e aromas simples e descomplicados, como os de um Chablis, sem carvalho.

Libra (23/09 a 22/10):
gosta dos sabores clássicos, sutis, equilibrados, como os de um Bordeaux de primeira linha.

Escorpião (23/10 a 21/11):
é ligado a gostos intensos e extremos, como os de um Nero D’Avola siciliano ou um Muscat late harvest australiano.

Sagitário (22/11 a 21/12):
gosta de sabores bem fragrantes e picantes. Para ele, portanto, um blend de Cabernet e Shiraz, típico dos vinhos australianos.

Capricórnio (22/12 a 21/01):
busca por sabores amargos, azedos mesmo, e por isso não se importaria com um vinho atacado pela “doença da rolha” ou até já avinagrado – rejeitado em qualquer restaurante.

Aquário (21/01 a 18/02):
opta por sabores adstringentes e um tanto salgados. Ficaria num Jerez (sherry) com toques salobres, picantes, travosos, como os de um Manzanilla.

Peixes (19/02 a 19/03):
“gosta de álcool em geral”, afirma o astrólogo. Bebe de tudo, destilados e fermentados, sem preferências. E bebe bem: uma dose só não chega.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


Foram-se os amores que tive
ou me tiveram:
partiram
num cortejo silencioso e iluminado.
O tempo me ensinou
a não acreditar demais na morte
nem dsistir da vida:cultivo
alegrias num jardim
onde estamos eu, os sonhos idos,
os velhos amores e seus segredos.
E a esperança - que rebrilha
como pedrinhas de cor entre as raízes.

Lya Luft

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Pra ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei...

Num dia azul de verão sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei...

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro, sozinhos...

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto...
Que ele adormece as paixões
Eu desperto...

E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer..."

Nana Caymmi

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008




A arte de pensar sem riscos. Não fossem os caminhos da emoção a que leva o pensamento, pensar já teria sido catalogado como um dos modos de se divertir. Não se convidam amigos para o jogo por causa da cerimônia que se tem em pensar. O melhor modo é convidar apenas para uma visita e, como quem não quer nada, pensa-se junto, no disfarçado das palavras.
Isso, enquanto jogo leve. Pois para pensar fundo – que é o grau máximo do hobby – é preciso estar sozinho. Porque entregar-se a pensar é uma grande emoção, e só se tem coragem de pensar na frente de outrem quando a confiança é grande a ponto de não haver constrangimento em usar, se necessário, a palavra outrem. Além do mais exige-se muito de quem nos assiste pensar: que tenha um coração grande,amor, carinho, e a experiência de também se ter dado ao pensar. Exige-se tanto de quem houve as palavras e os silêncios – como se exigiria para sentir. Não, não é verdade. Para sentir exige-se mais.
Bom, mas, quanto a pensar como divertimento, a ausência de riscos o põe ao alcance de todos. Algum risco se tem, é claro. Brinca-se e pode-se sair de coração pesado. Mas de um modo geral, uma vez tomados os cuidados intuitivos, não tem perigo. Como hobby, apresenta a vantagem de ser por excelência transportável. Embora no seio do ar seja ainda melhor, segundo eu. Em certas horas da tarde, por exemplo, em que a casa cheia de luz mais parece esvaziada pela luz, enquanto acidade inteira estremece trabalhando e só nós trabalhamos em casa mas ninguém sabe – nessas horas em que a dignidade se refaria se tivéssemos uma oficina de consertos ou uma sala de costuras – nessas horas: pensa-se. Assim: começa-se do ponto exato em que se estiver, mesmo que não seja de tarde; só de noite é que não aconselho.
Uma vez, por exemplo – no tempo em que mandávamos roupa para lavar fora – eu estava fazendo o rol. Talvez por hábito de dar título ou por súbita vontade de ter caderno limpo como em escola, escrevi: rol de... e foi nesse instante que a vontade de não ser séria chegou. Este é o primeiro sinal do animus brincandi, em matéria de pensar – como – hobby. E escrevi esperta: rol de sentimentos. O que eu queria dizer com isto tive que deixar pra ver depois – outro sinal de se estar no caminho certo é o de não ficar aflita por não entender; a atitude deve ser: não se perde por esperar, não se perde por não entender.
Então comecei uma listinha de sentimentos dos quase não sei o nome. Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? A saudade que se tem de pessoa de quem agente não gosta mais,essa mágoa e esse rancor – como se chama? Estar ocupada – e de repente parar por ter sido tomada por uma súbita desocupação desanuviadora e beata, como se uma luz de milagre tivesse entrado na sala: como se chama o que se sentiu?
Mas devo avisar. Às vezes começa-se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas infrutífero
Fundo de gaveta / Clarice Lispector

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos":
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo, a repressão dos sentimentos, a magoa, a tristeza, a decepção degenera até em câncer. Então vamos confidenciar, desabafar, partilhar nossa intimidade, nossos desejos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra é um poderoso remédio e poderosa terapia.

Se não quiser adoecer - "Tome decisão":
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagens e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções":
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências":
Quem esconde a realidade, finge, faz pose, quer sempre dar a impressão de estar bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso ... uma estátua de bronze, mas com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer - "Aceite-se":
A rejeição de si próprio, a ausencia de auto-estima faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer - "Confie":
Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer - "Não viva sempre triste":
O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem a vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. "O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.

Um belo texto do Dr. Dráuzio Varella

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008



"São demais os perigos desta vida Pra quem tem paixão, principalmente Quando uma lua chega de repente E se deixa no céu, como esquecida E se ao luar que atua desvairado Vem se unir uma música qualquer... Aí então é preciso ter cuidado Porque deve andar perto uma mulher..."

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 28 de novembro de 2008


...Tenho que escolher o que detesto – ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha
sensibilidade repugna; ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei de, em certa ocasião, ou sonhar
ou agir, misturo uma coisa com outra.
...Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo
mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me
interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre...
...

Mas dói-me, por exemplo, não me poder sonhar dois reis em reinos diversos, pertencentes, por exemplo, a universos com diversas espécies de espaços e de tempos. Não conseguir isso magoa-me verdadeiramente.

Fernando Pessoa in Livro do Desassossego, através de Bernardo Soares

quinta-feira, 27 de novembro de 2008


Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante.

Paulo Leminski

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


"Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.

É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença".

(Vista cansada)

Otto Lara Resende

domingo, 23 de novembro de 2008


"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

Hilda Hilst

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável no limite
de nosso poder de respirar a eternidade
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra maneira se tornam absoluta
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos,
por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária
e baixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gozo acre na boca ou na mente,
sei lá, talvez no ar"

Carlos Drummond de Andrade


"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"



Mario Quintana

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A complicada arte de ver


Rubem Alves


Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões — é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão — era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso — porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver — eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...


O texto acima foi extraído do caderno "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Bommmmmmmmmm diaaaaaaaaaaaaa!!!!


Adoro acordar feliz sem motivo...dar bom dia com um sorriso largo e ser retribuída...amo, sou viciada, fanática por café da manhã, são coisinhas indispensáveis para que eu tenha um bommmmm diaaaaaaa!!!!

Que o seu dia hoje seja maravilhoso, caloroso, acalorado, gostoso, felizzzzzzzzzzzzzz!!!! Com momentos de amor, com gargalhadas, e ceú azulll!!!

"Põe o máximo do que és no mínimo que fazes." Fernando Pessoa

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Texto de Kátia Najara

Eu não saberia dizer quanto, mas já faz um bom tempo que não sei mais o que é manicure e pedicure, desde que decidi eu mesma fazê-lo. Acho que tudo começou com a constatação de que não gosto de salões de beleza; depois veio uma necessidade de ocupar-me comigo mesma, olhar mais para mim, cuidar de mim eu mesma, passar mais tempo comigo, e como o tempo em geral é curto, este aqui me tem sido muito precioso.

É claro que no início o resultado não era dos melhores, mas também não era dos piores... e depois, havia a compensação de estar "ensimesmada em mim mesma". Da primeira vez percebi que há muito tempo não olhava com atenção para os meus pés e mãos; descobri marcas, relembrei sinais, analisei a pele, e essa análise passou a percorrer todo o meu corpo; vi-me diante do espelho, encontrei meus olhos, aproximei-me, assustei-me um pouco, pois era como se houvesse uma outra pessoa ali, uma estranha, vejam só! tive dificuldade em fitar-me a mim mesma, que loucura! Não conseguia no início, não segurava o meu próprio olhar; estranhava-me! Fiquei algo apavorada, e não havia nada no chá. Felizmente foi rápido, coisa de segundos, eu diria; mas resisti, insisti naquele olhar: não é possível, sou eu, ora que bobagem, sou eu! E finalmente encontrei-me, comecei a me reconhecer, voltei. Mas percebi que há muito não me olhava fundo nos olhos. Não sei se a comadre já tentou fazê-lo, mas recomendo o exercício sozinha, sem que nada possa atrapalhar. Olhe fundo nos seus próprios olhos, longamente, sem pressa. Não é fácil, toda a verdade virá, mas olhe, não deixe de fazê-lo.

Bom, o fato é que me encontrei fazendo os pés, e desde então, não cedo esta oportunidade a ninguém mais. Abro as cortinas para que entre muita claridade, coloco uma música bacana, seleciono os meus apetrechos, trago o telefone sem fio e o celular para perto, geralmente aos sábados, e começo o ritual.

Primeiro a acetona para tirar esmaltes velhos ou resíduos, depois tesoura, lixa, raspagem das unhas, esfoliação, hidratação, e cutícula. A parte mais difícil é tirar cutículas: a alicate tem que ser muito boa (Tramontina ou Mundial), e deve ser usada com parcimônia; no meu caso não "descarno" violentamente como se faz nos salões (a sensação que eu tinha é que saía com vias abertas em cada dedo, tão profundas as devastações). Não! Cutícula é proteção, pára tudo! Tiro apenas o que chama atenção, o resto fica. Depois a base de proteção (fundamental para as dependentes dos vermelhos como eu), depois o esmalte (se for de excelente qualidade, a depender da cor, uma mão generosa e bem espalhada pode ser suficiente - sem falar que seca muito mais rápido) sem mais combinações e sobreposições de cores no more (se escolhi o Luxo, o Luxo somente basta - nem mesmo toques finais de brilho me são necessários). Por fim a limpeza, a parte mais melindrosa, e está pronto!

O hábito faz o monge, e tenho me tornado uma manicure cada vez melhor, aliás, as minhas unhas têm ficado cada vez melhores. E eu também.

Mas não esqueçam do exercício dos olhos!

Texto de Kátia Najara

sexta-feira, 7 de novembro de 2008


...Certa vez perguntei se naqueles furos nos pedaços de lenha empilhados no cesto podiam morar anõezinhos, como aqueles dos livros de história. Claro que podiam, foi a resposta e cravou-se como um carvão em brasa no peito de uma criança de pijama na frente da lareira aos pés de seus pais.
De repente, um chiado no meio do fogo, e do furo de um pedaço de árvore saiu uma espumarada de resina aromática - apenas natural...
Mas para mim poucas coisas eram naturais.
Não consegui nem articular palavras: esperneei, chorei, estendia a mão para o fogo e, só depois de me acalmarem com colo e braços fortes e um pouco d'água, finalmente entre soluços expliquei que ali acabavam de assar vivo um dos meus anõezinhos amigos.
Assim, às vezes, nas horas mais felizes eu me desorientava: tudo o que parecia simples podia ser também estranho, e eu não conseguia sempre explicar minha ansiedade.
Então, como aquele meu anão de fantasia, tudo o que eu amava era precário e podia terminar?
Como é que nada podia ser meu para sempre, e sempre igual?
Era possível que meu amor não o pudesse preservar e proteger?
Eu não sabia ainda o que na madureza aprenderia: que todas as coisas quando acabam são substituídas por outras; que a vida não se reduz, mas cresce, e é em tudo um milagre.

Lya Luft

Mar de dentro

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Canção das mulheres



Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silencio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco mais – em lugar de voltar logo à sua vida, indo porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa.
Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo “Olha que estou tendo muita paciência com você!”
Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: “Mas que chateação essa sua mania, volta pra cama!”
Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: “Pôxa, mais um?”

Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro – filho, amigo, amante, marido – não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa – uma mulher.


LYA LUFT


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tem dias que vem um sentimento não se sabe de onde...Tem dias que vem uma força interior capaz de dar todo sentido que faltava...todas as explicações nunca alcançadas...todas as palavras não ditas...Tem dias assim, dias de mulher...um dia tão nosso...Dias em que acordamos e não importa se tudo está fora do lugar, o sorriso no rosto não nos abandona...a alegria interna fica aqui aquecendo o coração e os amigos...ah os amigos vão se chegando e se aquecendo também!!!

...E hoje o dia é meuuuuuuuuu...e quem quiser pode se achegar!!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Inominável…


Leve… - Pluma… Surdina… Aroma… Graça…
Qualquer coisa infinita… Amor… Pureza…
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem presa…

Silenciosa. Imprecisa. Etérea taça
em que adormece luar… Delicadeza…
Não se diz… Não se exprime… Não se traça…
Fluido… Poesia… Névoa… Flor… Beleza…

Passa… - É um morrer de lírios… Olhos quase
fechados… Noite… Sono… O gesto é gaze
a estender-se, a alargar-se… - E enquanto vão

fugindo aos passos teus, Visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida…
Silêncio! Divindade! Iniciação!

Cecília Meireles

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Porque eu to muiiitoooo bossa nova...ai...ai

Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito prá mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão
Copacabana, Copacabana

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Pousar...

Tom Jobim

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Prosper Mérimée...


Na minha adolescência um dos escritores que mais li e que me impressionou por suas histórias fantásticas foi o escritor francês Prosper Mérimée. O curioso foi que essa semana tentei pesquisar sobre sua vida e tive uma grande surpresa com a falta de informações na net, tudo que se fala é sobre uma de suas obras mais famosas: Carmen, que chegou inclusive a ser transformada em ópera por Bizet ...Acho que o nome desse autor vai sempre estar intimamente ligado ao de sua criação...



MÉRIMÉE PRECISO PORÉM ESCUSO



Alexandre Piccolo

Prosper Mérimée é um discreto narrador, como discreta foi sua vida. Uma vida feliz e rica em êxitos, regrada de cultura, compôs um homem delicado, observador, espirituoso, sociável, porém de uma desconfiança inata, de um sobreaviso constante. Sua profissão de inspetor de Monumentos Históricos proporcionou-lhe conhecimentos históricos, geográficos e lingüísticos diversos, dentre inúmeras outras experiências sem igual.

Sua excêntrica desconfiança talvez seja o ponto mais peculiar em sua personalidade, bem como em suas narrativas. Além de preciso e econômico com as palavras, Mérimée mantinha-se distante do objeto de sua narração, e mesmo participando como narrador e personagem, era um personagem ausente, distinto, que não se envolvia com o acontecimento narrado. Taine descreve bem sua posição receosa: "sua desconfiança fazia-o ficar de sobreaviso contra a emoção, o arrebatamento e o entusiasmo, nunca se entregar totalmente, reservar sempre parte de si mesmo, não se deixar lograr por outrem nem por si próprio, agir e escrever como na terna presença de um espectador indiferente e escarninho, ser ele mesmo esse espectador. Eis o traço que se lhe gravou no caráter cada vez com mais força para deixar um sinal em todas as partes da sua vida, da sua obra e do seu talento." [1]

Este narrador desconfiado está sem dúvida presente em "Venus de Ille", na qual os acontecimentos, por mais fantásticos e sobrenaturais que possam ser ou parecer, não afetam a decisão e opinião intocável do narrador. Sua posição superior parece impor-se diante dos fatos narrados, como se olhasse para tudo e para todos de uma visão distante, afastada e imparcial. A própria não elucidação do conto parece reforçar esta desconfiança, deixando intacta a resolução da história - segundo decisão do próprio leitor. "O fim da história deixa-nos suspenso, pela falta não de um desfecho, mas de uma solução... Ou melhor, o autor oferece-nos duas explicações igualmente válidas. Tudo pode ser explicado na história, por uma coincidência de fatos vulgares, e, se o leitor for um espírito positivo, poderá ficar satisfeito; mas precisamente a vulgaridade dos fatos cuja convergência bastaria para a explicação inclina-nos a desejar e sugere-nos uma interpretação maravilhosa, da qual ele é o instigador se ser o responsável." [2]

O narrador é investigativo e cauteloso, sem jamais proferir uma palavra sequer a respeito da elucidadação do mistério sem uma única prova conclusiva. Chega a ser esquivo já que não há evidências concretas para uma explicação satisfatória. O trecho em que procura por possíveis pistas deixadas na noite anterior é ilustrativo: "Debalde percorria a casa, procurando por toda parte traços de arrombamento. Desci ao jardim para verificar se os assassinos teriam tido possibiliadades de introduzir-se por aquiele lado; mas não encontrei o mínimo indício positivo. A chuva da véspera de tal modo ensopara o solo, que nele não havia rastos bastante nítidos. Entretanto, viam-se algumas pegadas profundamente impressas na terra; seguiam duas direções opostas, mas no mesmo rumo, pois partiam da cerca contígua ao campo de péla, e desembocavam na porta da casa e vice-versa. Podiam ser os passos do Sr. Alphonse quando fora buscar o anel no dedo da estátua. Além disso a cerca era menos espessa nesse lugar do que em qualquer outro ponto. Passando e repassando diante da estátua, detive-me um momento para examiná-la. Forçoso é confessar que não pude contemplar-lhe a expressão perversa do rosto sem um sentimento de terror; e, com a cabeça ainda repleta de cenas impressionantes, que acabara de testemunhar, não é de estranhar que me assaltasse a impressão de que aquela infernal divindade festejava a desgraça desferida sobre a casa." [3]

Mérimée é um narrador que conta exatamente o que vê, sem mais ou menos palavras do que o absolutamente necessário. Ele não é elucidativo quando não encontra as provas para tal, mantendo intacta sua posição, preservando-se de qualquer erro ou confusão. Percebe-se em seu relato uma sutil desconfiança diante dos acontecimentos "sobrenaturais" porém ele não se deixa levar por qualquer explicação - seu voto permanece, como se desviasse de qualquer hipótese. "Mérimée não crê que Deus existe, mas não está muito seguro que o Diabo não existe." [4]

Valery Larbaud, lembrado por Paulo Rónai, faz um belo comentário a respeito do escritor e de sua obra: "Mérimée não age de imediato sobre o espírito do leitor. O efeito só começa depois de acabada a leitura. Secamente, quase que pobremente, ele desenhou as atitudes de suas personagens, contando muito depressa o que fizeram; e, depois, escamoteou-as, matou-as na maioria dos casos, suprimiu-as, como bonecos atirados ao fogo após uma breve representação, ou como figuras dos baralhos dos clubes que são renovados de cada partida. Mas é então que elas começam a viver. Nossa imaginação põe-se a reconstruir a novela, momento por momento, ação por ação, a tal ponto que acontece colaborarmos com o autor, inventarmos aqui ou ali um pormenor. Mas, relendo-o (e Mérimée é para ser relido), vemos que esse detalhe estava indicado, incluído num membro de frase, numa palavra, e que nos fora sugerida à nossa revelia." [5]



Referências Bibliográficas

[1] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 10 e 11

[2] Idem, ibidem, pág. 14

[3] Mérimée, Prosper, A Vênus de Ille, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 152 e 153 - grifos meus.

[4] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, palavras de Saint-Beuve, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 10 e 11

[5] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, palavras de Valery Larbaud, Carmen e outros contos, editora Ediouro, pág. 15


quinta-feira, 23 de outubro de 2008


...Sinto-me um pouco intrusa vasculhando minha infância. Não quero perturbar aquela menina no seu ofício de sonhar. Não a quero sobressaltar quando se abre para o mundo que tão intensamente adivinha, nem interromper sua risada quando acha graça de algo que ninguém mais percebeu....


...afinal compreendo que não são as palavras que produzem o mundo, pois este nem ao menos cabe dentro delas. Assim, aquela menina dançando no pátio na chuva não cabia no seu protegido cotidiano: procurava sempre o susto que viria além.
Então enfiava-se atrás dos biombos da imaginação, colocava máscaras e espiava o belo e o intrigante, que levaria o resto de sua vida tentando descrever.

Lya Luft
Mar de Dentro

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Receitas afrodisíacas para esquentar a relação


Da Redação
Site Abril.com


A correria do dia-a-dia consegue esfriar qualquer relação. Não é difícil viver a cena de chegar em casa morto de cansaço e com a libido em baixa. Nessas horas, fica impossível até pensar em sexo.Mas, com um pouco de dedicação na cozinha, é possível levantar as energias com alguns pratos afrodisíacos. No livro "Afrodite, Contos, Receitas e Outros Afrodisíacos", a escritora chilena Isabel Allende afirma que a comida tem muito potencial para gerar prazer. "Depois de um jantar erótico que, colherada a colherada, conduz os amantes através dos preâmbulos e jogos amorosos até o leito, deve haver um final feliz: a sobremesa", brinca.Confira abaixo algumas receitas de Isabel, do chef de cozinha do restaurante paulista Tantra, Cabral Filho, e do barmen Maurício Rodrigues de Lima:

Delícia de pêssego
Rende 2 porções
2 metades de pêssego em calda2 bolas de sorvete de limão2 cerejas ao marrasquino1 colher (sopa) de licor de marrasquino1 taça de champanhe rosé ou espumanteColoque cada metade de pêssego em uma taça que tenha boca larga. Sobre a fruta, adicione uma bola de sorvete, enfeite com as cerejas, coloque o licor de marrasquino, encha as taças com o champanhe e sirva imediatamente.

Carpaccio Tantra
Rende de 5 a 6 porções

50 g de filé mignon (ou contrafilé) cortado em fatias bem finas1 maço de rúcula5 ovos de codorna20 g de queijo parmesãoMolho6 colheres (sopa) de azeite6 colheres (sopa) de molho inglês1 colher (chá) de gengibre picado1 colher (chá) de pimenta vermelha picada1 colher (chá) de raiz de coentro picada1 colher (café) de mostarda em grão ou comumBata todos os ingredientes do molho no liquidificador. Guarde o conteúdo em um frasco. Monte o carpaccio da seguinte forma: coloque algumas fatias no centro de um prato raso. Espalhe o molho por cima da carne com a ajuda de uma colher. Ponha o queijo ralado por toda a borda do prato. Fatie a rúcula bem fininha e coloque no centro. Corte o ovo de codorna em quatro, como se fosse uma

Salmão picante
Rende 2 porções

250 g de filé ou posta de salmão2 conchas de caldo de peixe2 conchas de creme de leite fresco1 colher (café) de curry em póSuco de um limãoSal, pimenta e azeite a gostoCorte o salmão em dois pedaços iguais. Deixe-o marinando (descansando) em um molho com sal, pimenta e suco de limão por 15 minutos. Em uma frigideira com azeite, grelhe o peixe em fogo médio. Tome o cuidado de grelhar primeiro a parte que vai ficar virada para cima. Em seguida, acrescente o caldo de peixe e aumente um pouco o fogo. Deixe reduzir (engrossar o caldo) por 4 minutos. Adicione, em seguida, o creme de leite e o curry e deixe cozinhar por 2 a 3 minutos. Sirva acompanhado de arroz branco.

Manga Sensual
Rende 2 porções

1 manga madura1 colher (chá) de sementes de cardamomo2 colheres (sopa) de manteiga1 colher (chá) de pimenta rosa1 colher (chá) de cravo1 colher (chá) de canela em pó8 colheres (sopa) de açúcar200 ml de suco de laranja1 dose de conhaque2 bolas de sorvete de cremeCasca de uma laranja fatiada bem finaEm uma frigideira, derreta 1 colher (sopa) de manteiga, em fogo médio, e acrescente as cascas de laranja. Deixe refogar por 2 minutos. Acrescente o restante das especiarias (cravo, canela em pó, pimenta rosa e cardamomo) e deixe refogar por mais 2 minutos. Acrescente o açúcar e mexa até formar um caramelo. Coloque o suco de laranja, aumente o fogo e deixe reduzir por mais 2 minutos. Coe e reserve. Corte a manga ao meio, tire o caroço e fatie. Refogue as fatias na frigideira, com uma colher (sopa) de manteiga, por dois minutos. Em seguida, acrescente uma dose de conhaque e deixe flambar por 1 a 2 minutos. Coloque os pedaços de manga em um prato e jogue a calda ainda quente por cima. Ponha o sorvete e, se quiser, decore com folhinhas de hortelã.

Corpos Ardentes
Rende 2 porções

1 e 1/2 dose de licor de cacau1 dose de conhaqueBata tudo no liquidificador com três pedras de gelo. Sirva em um copo alto, com calda de chocolate na borda.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


Eu quero lutar com minha caneta. Eu lutaria através da força, com uma arma, mas assim teria de matar outras pessoas. Não quero fazer isso, mesmo que não sejam pessoas boas. Elas não precisam ser mortas, precisam aprender a tornarem-se humanas.

"
Marina, em "Mulheres de Cabul", de Harriet Logan. Cabul na foto.

domingo, 12 de outubro de 2008

Existem sim forças maiores do que tudo que podemos supor nessa vida.
Existem forças que nos arrastam...minutos que se eternizam e jamais poderão ser esquecidos...Existe o amor e ele traz consigo um leque de novos sentimentos, ele faz tudo valer a pena . Hoje vivi dois momentos grandiosos ao lado dos meus pais...momentos para carregar no coração por toda vida...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008


Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim

Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
E todo grande amor
Só é grande se for triste

Por isso, meu amor,
Não tenho medo de sofrer
Pois todos os caminhos
Me encaminham a você

Assim como o oceano
Só é belo com o luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer

Assim como viver sem teu amor
Não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Site publica lista com seriados que podem ser cancelados


Tremam fãs de seriados! O site TV by The Numbers, que monitora a audiência da televisão americana, publicou esta semana um relatório sobre as possíveis séries a serem canceladas.

Está bem que nada é oficial, mas o site é conhecido por acertar muitas de suas previsões. Segundo a lista,
The New Adventures of Old Christine, Lipstick Jungle, Knight Rider, Terminator: Sarah Connor Chronicles, Gary Unmarried, e My Name is Earl estão na corda bamba do cancelamento.

Ainda segundo o site, os seguintes programas provavelmente terão novas temporadas: G
rey’s Anatomy, Desperate Housewives, House, Two and A Half men, CSI: Miami, 90210, Criminal Minds, Heroes, Simpsons, e Family Guy. Nada de estranho nesses palpites.

Clique no link abaixo e visualize a listagem completa

http://revistamonet.com.br/files/497/2008/10/sweeps.jpg

Extraído do Blog Monet

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Jane Austen...Hannah Arendt



As GRANDES mulheres do passado exercem sobre mim um fascínio e admiração que não sei bem como explicar, adoro ler sobre suas vidas e suas inspirações, às vezes chego a me sentir grata, pois foram tantas lutas travadas, tantas conquistas em nome do nosso sexo, tantos nomes que nunca conheceremos mas que buscaram sonhos que hoje para nós são uma realidade tão distante daquela época e tão comum a nossa.
Foi assim com muitas feministas no início do século passado, ridicularizadas, perseguidas...não reconhecidas, mas guerreiras.
Ter um ideal, uma paixão...um desejo capaz de mudar um tempo, um século...muitas vidas...perseguir um sonho...quantas pessoas são tão corajosas assim?
Hoje estou especialmente interessada em uma mulher admirável: Jane Austen, pouco se sabe de fato sobre sua vida, a atriz Anne Hathaway fez um filme sobre sua história no ano passado chamado "Becoming Jane" é um relato fictício da vida de Jane Austen, com certeza inspirado em uma de suas obras como: Orgulho e Preconceito. O filme imagina Jane Austen, quando jovem, se apaixonando por um jovem inculto, Tom LeFroy, e cria acontecimentos em que o público é levado a crer que poderiam ter ajudado a moldar os romances de Austen...eu como sempre, derramei boas lágrimas ao assistir o filme, mas de fato a narrativa pouco tem a ver com a verdadeira vida da romancista.



Jane Austen


Romancista britânica nascida em Steventon, Hampshire, Inglaterra, cuja obra literária deu ao romance inglês o primeiro impulso para a modernidade, ao tratar do cotidiano de pessoas comuns com aguda percepção psicológica e um estilo de uma ironia sutil, dissimulada pela leveza da narrativa. Filha de um pastor anglicano, toda a sua vida transcorreu no seio de um pequeno grupo social, formado pela aristocracia rural inglesa. Aos 17 anos, escreveu seu primeiro romance, Lady Susan, uma paródia do estilo sentimental de Samuel Richardson. Seu segundo livro, Pride and Prejudice (1797), tornou-se sua obra mais conhecida, embora, inicialmente, tenha sido malvisto pelos editores, o que levou por algum tempo ser descriminada no meio editorial. Depois conseguiu publicar o romance Sense and Sensibility (1811), cujo sucesso levou à publicação, ainda que sob pseudônimo, de obras anteriormente recusadas. Vieram ainda outros grandes sucessos como Mansfield Park (1814) e Emma (1816) em um estilo menos ágil e humorístico, porém ganhando em serenidade e sabedoria, sem perda de sua típica ironia. Morreu em Winchester, um ano antes de serem publicadas as obras Persuasion e Northanger Abbey, uma deliciosa sátira, escrita na juventude, ao gênero truculento da novela gótica. Seu poder de observação do cotidiano forneceu-lhe material suficiente para
dar vida aos personagens de suas obras, e a crítica considerou-a a primeira romancista moderna da literatura inglesa.
Extraído do site Netsaber Biografia

Filme mostra Jane Austen como paqueradora inveterada


Plantão Publicada em 25/04/2008 às 18h13m
Reuters/Brasil Online
Por Avril Ormsby
O Globo
LONDRES (Reuters) - Os fãs de Jane Austen que pensam que a romancista inglesa do século 18 era uma moça recatada da zona rural podem se chocar com um novo filme da TV britânica que a mostra flertando, sofrendo ressacas e mudando de idéia em relação a um pedido de casamento que já tinha aceitado.
Mas a roteirista de "Miss Austen Regrets" acha que qualquer pessoa que tenha lido seus livros reconhecerá Austen como uma mulher espirituosa e hábil em relacionar-se na sociedade.
"Não estou pintando um retrato malicioso", disse Gwynteh Hughes.
"Algumas pessoas podem não gostar de ver Jane Austen de ressaca, mas meu objetivo não foi chocar."
Helen Lefroy, parente distante de Tom Lefroy, que foi amigo de Jane Austen, disse que a escritora pode ter sido agitada e brincalhona, mas que "não era desmedida".
"Sabemos muito pouco sobre ela, mas não acho que ela estivesse à procura de um casamento", disse Lefroy. "O que ela queria era compreender as relações entre homens e mulheres, coisa que usou tão bem em seus romances."
O roteiro do filme produzido pela BBC e que irá ao ar no domingo é baseado nas mais de cem cartas ainda existentes escritas por Jane Austen a sua irmã Cassandra e sua sobrinha Fanny.
Autora dos clássicos literários "Orgulho e Preconceito" e "Razão e Sensibilidade", Jane Austen nunca encontrou um "Mr. Darcy" em sua própria vida.
Mas o filme mostra vários namoros dela e também um pedido de casamento, que Austen, então com 27 anos, inicialmente aceitou, mas então, depois de passar uma noite refletindo, rejeitou.
"Isso teria sido visto como uma grosseria incrível, uma enorme falta de educação", disse Hughes. "Como algo escandaloso, frívolo e errado."
Mais tarde, já na meia-idade, Jane Austen se apaixonou por um médico dez anos mais jovem que ela, que tratava seu irmão.
"Acho que ela o desejava loucamente", disse Hughes.
A roteirista acrescentou que Austen flertou muito em sua vida e gostava de frequentar festas.
"Ela era uma mulher normal", dise Hughes. "Quando ia a uma festa, tomava vinho e podia acordar de ressaca."
Hughes acredita que muitas das cartas de sua irmã foram destruídas por Cassandra para poupar os sentimentos de amigos, familiares e vizinhos e para proteger a privacidade de sua irmã.
"Jane Austen era animada e implacável em suas críticas. Alguns dos comentários que fazia sobre seus vizinhos são capazes de fazer você chorar de rir."

Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarrá-la toda de uma vez?
Jane Austen



Hannah Arendt



Conhecida como a pensadora da liberdade, Hannah Arendt viveu as grandes transformações do poder político do século 20. Estudou a formação dos regimes autoritários (totalitários) instalados nesse período - o nazismo e o comunismo - e defendeu os direitos individuais e a família, contra as "sociedades de massas" e os crimes contra a pessoa.Sua obra é fundamental para entender e refletir sobre os tempos atuais, dilacerados por guerras localizadas e nacionalismos. Para ela, compreender significava enfrentar sem preconceitos a realidade, e resistir a ela, sem procurar explicações em antecedentes históricos.Embora fosse de família hebraica, não teve a educação religiosa tradicional judia e sempre professou sua fé em Deus de forma livre e não-convencional. É importante saber desse aspecto porque Hannah dedicou toda sua vida a compreender o destino do povo judeu perseguido por Hitler.Foi aluna do filósofo Heidegger - com quem teve um relacionamento amoroso - na universidade alemã de Marburgo, e formou-se em filosofia em Heidelberg.Em 1929, quando o mundo mergulhava na recessão causada pela quebra da Bolsa de Nova York, Arendt ganhou uma bolsa de estudos e mudou-se para Berlim. Quando o nacional-socialismo de Hitler subiu ao poder, em 1933, ela saiu da Alemanha e foi para Paris, a capital francesa, onde entrou em contato com intelectuais como o escritor Walter Benjamin.Nessa época, colaborou em instituições dedicadas a preparar jovens para viverem como operários ou agricultores na Palestina - ao mesmo tempo, trabalhou como secretária da baronesa Rotschild, de uma família de banqueiros.Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo francês de Vichy colaborou com os invasores alemães e, por ser judia, Hannah foi enviada a um campo de concentração, em Gurs, como "estrangeira suspeita". Porém, conseguiu escapar e aportou em Nova York, em maio de 1941.Exilada, ficou sem direitos políticos até 1951, quando conseguiu a cidadania norte-americana. Então começou realmente sua carreira acadêmica, que duraria até sua morte. Combateu com toda a alma os regimes totalitários e condenou-os em seus livros "Eichmann em Jerusalém" e "As origens do totalitarismo". No primeiro, estuda a personalidade medíocre de Adolf Eichmann, formulando o conceito da "banalidade do mal". Em seus depoimentos, Eichmann disse que cumpria ordens e considerava desonesto não executar o trabalho que lhe foi dado, no caso, exterminar os judeus.Hannah concluiu que ele dizia a verdade: não se tratava de um malvado ou de um paranóico, mas de um homem comum, incapaz de pensar por si próprio, como a maior parte das pessoas. Essa afirmação é um eco da frase do filósofo e matemático francês Pascal (1623-1662) "Nada é mais difícil que pensar".Arendt, a teórica do inconformismo, também defendeu os direitos dos trabalhadores, a desobediência civil e atuou contra a Guerra do Vietnã (1961-1975).

Há uns que nos falam e não ouvimos; há uns que nos tocam e não sentimos; há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas... há aqueles que simplesmentevivem e nos marcam por toda vida."
(Hannah Arendt)

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir."
Hannah Arendt






sexta-feira, 3 de outubro de 2008


Sossega, coração! Não desesperes! Talvez um dia, para além dos dias, Encontres o que queres porque o queres. Então, livre de falsas nostalgias, Atingirás a perfeição de seres. Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! Pobre esperança a de existir somente! Como quem passa a mão pelo cabelo E em si mesmo se sente diferente, Como faz mal ao sonho o concebê-lo! Sossega, coração, contudo! Dorme! O sossego não quer razão nem causa. Quer só a noite plácida e enorme, A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério.

Lya Luft

quinta-feira, 2 de outubro de 2008


Todos os dias acordo com essa música delícia na minha cabeça e chego no trabalho cantarolando...estranho né...rsrsrsr

Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fonte: Revista Época
Luis antônio Giron

“...depois, querida, ganharemos o mundo”
A profética frase de Machado de Assis faz parte de um conjunto inédito de cartas que ÉPOCA revela com exclusividade. Hoje, o maior escritor brasileiro começa a ser reconhecido em todo o mundo


Nos cem anos de sua morte, comemorados nesta segunda-feira, 29 de setembro, Machado de Assis ainda é capaz de provocar surpresas. Sua extensa obra – nove romances, 200 contos, uma dezena de peças de teatro, cinco coletâneas de poemas e milhares de crônicas – está praticamente canonizada e o torna, indiscutivelmente, o maior escritor do Brasil. Mas quem é esse gênio? É o austero fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL)? O monstro cerebral pessimista e sarcástico como o descreviam os modernistas? Ou o herói do povo, como defendiam os primeiros socialistas? Embora os estudos machadianos tenham gerado dezenas de milhares de títulos – Machado é o ramo do conhecimento literário brasileiro mais estudado –, sua vida permanece envolta em mistérios, em especial os anos de juventude. Como um sujeito pobre e mestiço, numa sociedade ainda escravagista, conseguiu se tornar o mestre da cultura brasileira? ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, a um conjunto de cartas ainda inéditas de Machado, que ajudam a responder a essas perguntas e a desvendar o enigma machadiano. “Pela primeira vez, podemos compreender o fluxo da correspondência de Machado, suas amizades, amores, relação com a política de seu tempo e preocupações filosóficas”, diz o ensaísta e diplomata Sérgio Paulo Rouanet, da ABL. Rouanet coordena o projeto mais arrojado do centenário de Machado: organizar em ordem cronológica toda a correspondência do escritor, tanto a escrita por ele como a recebida por ele ao longo de 50 anos de vida intelectual. O primeiro volume do trabalho, Correspondência de Machado de Assis, Tomo I (1860-1869) , sairá em outubro. São 90 cartas. O segundo, previsto para 2009, contém oito centenas de cartas e cobre os 40 anos restantes.

O Machado de Assis que emerge dessas cartas é um personagem novo, distante dos estereótipos que nos habituamos a estudar na escola. Trata-se de um dândi, um jornalista e poeta empolgado com a frenética vida social e boêmia do Rio de Janeiro imperial. Ele sai com atrizes de teatro, conta suas aventuras aos amigos, divide confidências e dá conselhos. Num sinal de que estava bem à frente de seu tempo, sugere à noiva a leitura de um compêndio feminista. A um amigo distante, filosofa sobre a podridão do comportamento humano e a vida na cidade. De modo maroto, esquiva-se das ordens dos caciques políticos que chefiam o jornal em que trabalha, o Diário do Rio de Janeiro. Ele é um Machado que, mais que tudo, desce do monumento da academia e vai às ruas, rejuvenescido.

A ÍNTEGRA DAS CARTAS

As duas cartas manuscritas de Machado a Carolina que restaram da correspondência íntima do casal foram reencontradas há um mês no Museu da República, do Rio de Janeiro.

A investigação que descobriu esse novo personagem mundano começou há dois anos, sem outra intenção que ordenar um material desconhecido. Rouanet convidou as pesquisadoras Irene Moutinho e Silvia Eleuterio para sair à cata de cartas em arquivos e bibliotecas. Logo, as surpresas e os textos inéditos começaram a vir à tona – e esse novo Machado, mais jovem e impetuoso, começou a ganhar corpo.

Uma das principais descobertas feitas por Irene está no texto de uma das duas cartas íntimas que restaram de Machado a Carolina, então sua noiva. Elas foram escritas no mesmo dia, 2 de março de 1869, quando Carolina estava em Petrópolis para tomar conta do irmão, o jornalista e poeta – e amigo de Machado – Faustino Xavier de Novaes (1820-1869). Faustino sofria de distúrbios mentais e morreria em agosto. “Machadinho”, como Machado assinava sua correspondência a Carolina, estava aflito por reencontrar a amada. Derramou-se em declarações e elogios a ela, numa letra apressada e nada legível. Perto da conclusão, uma palavra soava estranha a quem se acostumara com uma versão que fora divulgada em 1939, no Catálogo da Exposição do Centenário de Machado de Assis, repetida até hoje. O trecho da carta que embatucou a pesquisadora dizia: “depois... depois, querida, queimaremos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis”.

O convite de Machadinho para a queimada planetária soava esquisito. “Havia algo de errado”, diz Irene. Acostumada com manuscritos, ela foi à caça dos originais, dados como perdidos. Encontrou o documento no Museu da República, no Rio de Janeiro. As duas cartas foram doadas à instituição pela sobrinha de Machado, Laura Braga da Costa. Irene fez a cópia das cartas e comparou-as com os textos impressos. “Notei discrepâncias e deduzi, pela análise dos garranchos, que tudo apontava para ‘ganharemos’, e não ‘queimaremos’”, afirma Irene. A carta, corrigida, ganhou um novo sentido. Machadinho declara premonitoriamente a sua “Carola”: “...depois, querida, ganharemos o mundo”. “A sensação foi de alívio”, diz Rouanet. “Nosso Machado não era incendiário aos 30 anos, nem fez um convite terrorista a Carolina!”
Acervo ABL


O desejo de Machado está se cumprindo. Hoje, ele começa a conquistar o mundo. Os simpósios internacionais sobre sua obra, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, atraem a atenção de acadêmicos respeitáveis. Críticos de alta reputação, como os americanos Harold Bloom e Susan Sontag e o inglês John Gledson, elevaram-no ao patamar dos gênios. Em seu livro Gênio, de 2003, Bloom define Machado como “um milagre”, por ter conseguido fugir de sua situação social e histórica para criar uma ficção universal. Seus livros foram traduzidos para 14 idiomas, a maior parte na década passada. Há, nos EUA, um entusiasmo por novas traduções.

A glória mundial de Machado será enriquecida pela redescoberta de suas cartas. Elas contêm mistérios que mostram a complexidade da relação amorosa entre Machado e Carolina. Uma das charadas da primeira carta está no terceiro parágrafo. Ele diz: “Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida”. Soa cifrado. E as únicas explicações que poderiam elucidar o enigma estariam nas demais cartas íntimas, queimadas após a morte de Machado.
AMOR DEFINITIVO
A portuguesa Carolina (em foto de c. 1890) casou-se com Machado de Assis (acima, aos 25 anos) em 1869. Ela foi trazida do Porto depois de uma suposta desilusão amorosa. Viveram juntos por 35 anos
A Dama do Livro" e outros mistérios
Luiz Antonio Aguiar*

Conta-se que Machado, lá por 1855, contrariando seus hábitos, deixou de aparecer, nos finais de tarde, na Livraria Garnier. Seus amigos arriscaram que estaria com uma amante e foram segui-lo. De fato, havia uma senhora, A Dama do Livro, quadro do italiano Roberto Fontana, hoje na Academia Brasileira de Letras. Machado se apaixonara pela pintura e, achando o preço acima de suas possibilidades, contentava-se em visitá-la, diariamente, na vitrina. Os amigos deram a tela de presente a Machado, com um bilhete: “Não se esqueça de nós”. Machado, em agradecimento, lhes dedicou o “Soneto Circular”.

Ora, as reservas de Machado sempre estimularam fantasias. Tal como a Lenda da Madrinha, a senhora Mendonça Barrozo, que lhe teria aberto sua biblioteca e proporcionado ao afilhado pobre, que não freqüentou escola, a iniciação nos clássicos da literatura. Só que a madrinha morreu quando ele tinha 6 anos, idade em que ninguém já teria se iniciado em clássicos. Existe ainda a Lenda do Padeiro, um amigo, padeiro e francês, que, entre uma fornada e outra, haveria ensinado ao menino o idioma, algo jamais comprovado e pouco factível.

A mais peculiar é a da origem de seu apelido. Temos o poema de Drummond, intitulado “A um Bruxo com Amor”. Mas, existe A Lenda do Caldeirão. Na ABL, está o caldeirão de bronze em que Machado costumava queimar cartas e manuscritos descartados, no sobrado da Rua Cosme Velho, 18. Vendo-o assim, a vizinhança deu de gritar: Olha o Bruxo do Cosme Velho!...

Nessa biografia, não faltam controvérsias. Na certidão de óbito de Machado, além de omitida sua filiação, está que o mulato, autor de agudos textos contra a escravatura, era branco. E como profissão do presidente da ABL, nosso maior romancista, registrou-se: funcionário público.

Entretanto, nenhum mistério biográfico será tão fértil quanto suas bruxarias literárias. Esse escritor que alguns querem reduzir ao realismo e a mero retratista da História é o mesmo que deu a um canário o poder de desnortear um Darwin tropical devoto da ciência e da razão. Que transmitiu a um cronista a língua guliveriana para este participar do diálogo de dois burros sobre o progresso. Que conjurou defuntos e debateu com vermes sobre o lado patético da morte. E que, se retratou o Brasil, antes inventou uma câmera, um filme... e uma nova inteligência para decifrar os dilemas do Ser-Brasileiro.
Na ABL está o caldeirão em que Machado queimava cartas e manuscritos

Já o debate Capitu: culpada ou inocente, em cartaz há 109 anos, é a expressão corrente da impossibilidade de desvendar esse romance. Por um lado, os ardis de Bento Santiago incitam à suspeita e podemos tentar desconstruí-los, como se fossem um véu encobrindo a verdade. Por outro, levantaríamos o véu somente para constatar que não há, por baixo, face alguma. O que lemos, mesmo que para contestá-la, é a narrativa de Bentinho; não existe uma Narrativa de Capitu, nesse romance.

Ou seja, podemos denunciar a intriga que Bento Santiago fez contra Capitu para convencer o leitor... ou avalizar as confissões de um solitário Bentinho... Ou nenhuma das hipóteses? Ou ambas? Que tal alterná-las, caprichosamente? Afinal, escreveu o Bruxo: “Há neste mundo o que se possa dizer verdadeiramente verdadeiro? Tudo é conjetural.”

Algo semelhante ocorre quando nosso cronista se mete num leilão de objetos usados e lá fica a conjeturar sobre o background de uma espada. A princípio, quase nos convence de que teria sido usada na Guerra do Paraguai. Em seguida, lembra a notícia, num jornal, da chegada de imigrantes, dos quais, entre muitos de cada nacionalidade, havia um grego. Daí, quem empenhou a espada teria de ser esse grego, até porque, sendo apenas um, reclamaria menos que os demais, do cronista, caso estivesse sendo acusado injustamente. Finalmente, aventa que a espada teria sido trazida por um contra-regra, que a roubara de um cenário de teatro para conseguir uns cobres para o almoço. E encerra: “Se tal foi, façam de conta que não escrevi nada, e vão almoçar também, que é tempo”.

Foi a última crônica que Machado publicou. Haveria da parte dele despedida mais significativa e elegante?

* Escritor, autor de Almanaque Machado de Assis e organizador da coletânea de crônicas de Machado O Mínimo e o Escondido, pela Salesiana

OBSESSÃO
O óleo sobre tela A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana, era objeto do desejo de Machado, que não podia pagar por ele. Os amigos se cotizaram e lhe deram a obra de presente