quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tem dias que vem um sentimento não se sabe de onde...Tem dias que vem uma força interior capaz de dar todo sentido que faltava...todas as explicações nunca alcançadas...todas as palavras não ditas...Tem dias assim, dias de mulher...um dia tão nosso...Dias em que acordamos e não importa se tudo está fora do lugar, o sorriso no rosto não nos abandona...a alegria interna fica aqui aquecendo o coração e os amigos...ah os amigos vão se chegando e se aquecendo também!!!

...E hoje o dia é meuuuuuuuuu...e quem quiser pode se achegar!!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A Inominável…


Leve… - Pluma… Surdina… Aroma… Graça…
Qualquer coisa infinita… Amor… Pureza…
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem presa…

Silenciosa. Imprecisa. Etérea taça
em que adormece luar… Delicadeza…
Não se diz… Não se exprime… Não se traça…
Fluido… Poesia… Névoa… Flor… Beleza…

Passa… - É um morrer de lírios… Olhos quase
fechados… Noite… Sono… O gesto é gaze
a estender-se, a alargar-se… - E enquanto vão

fugindo aos passos teus, Visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida…
Silêncio! Divindade! Iniciação!

Cecília Meireles

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Porque eu to muiiitoooo bossa nova...ai...ai

Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito prá mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão
Copacabana, Copacabana

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Pousar...

Tom Jobim

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Prosper Mérimée...


Na minha adolescência um dos escritores que mais li e que me impressionou por suas histórias fantásticas foi o escritor francês Prosper Mérimée. O curioso foi que essa semana tentei pesquisar sobre sua vida e tive uma grande surpresa com a falta de informações na net, tudo que se fala é sobre uma de suas obras mais famosas: Carmen, que chegou inclusive a ser transformada em ópera por Bizet ...Acho que o nome desse autor vai sempre estar intimamente ligado ao de sua criação...



MÉRIMÉE PRECISO PORÉM ESCUSO



Alexandre Piccolo

Prosper Mérimée é um discreto narrador, como discreta foi sua vida. Uma vida feliz e rica em êxitos, regrada de cultura, compôs um homem delicado, observador, espirituoso, sociável, porém de uma desconfiança inata, de um sobreaviso constante. Sua profissão de inspetor de Monumentos Históricos proporcionou-lhe conhecimentos históricos, geográficos e lingüísticos diversos, dentre inúmeras outras experiências sem igual.

Sua excêntrica desconfiança talvez seja o ponto mais peculiar em sua personalidade, bem como em suas narrativas. Além de preciso e econômico com as palavras, Mérimée mantinha-se distante do objeto de sua narração, e mesmo participando como narrador e personagem, era um personagem ausente, distinto, que não se envolvia com o acontecimento narrado. Taine descreve bem sua posição receosa: "sua desconfiança fazia-o ficar de sobreaviso contra a emoção, o arrebatamento e o entusiasmo, nunca se entregar totalmente, reservar sempre parte de si mesmo, não se deixar lograr por outrem nem por si próprio, agir e escrever como na terna presença de um espectador indiferente e escarninho, ser ele mesmo esse espectador. Eis o traço que se lhe gravou no caráter cada vez com mais força para deixar um sinal em todas as partes da sua vida, da sua obra e do seu talento." [1]

Este narrador desconfiado está sem dúvida presente em "Venus de Ille", na qual os acontecimentos, por mais fantásticos e sobrenaturais que possam ser ou parecer, não afetam a decisão e opinião intocável do narrador. Sua posição superior parece impor-se diante dos fatos narrados, como se olhasse para tudo e para todos de uma visão distante, afastada e imparcial. A própria não elucidação do conto parece reforçar esta desconfiança, deixando intacta a resolução da história - segundo decisão do próprio leitor. "O fim da história deixa-nos suspenso, pela falta não de um desfecho, mas de uma solução... Ou melhor, o autor oferece-nos duas explicações igualmente válidas. Tudo pode ser explicado na história, por uma coincidência de fatos vulgares, e, se o leitor for um espírito positivo, poderá ficar satisfeito; mas precisamente a vulgaridade dos fatos cuja convergência bastaria para a explicação inclina-nos a desejar e sugere-nos uma interpretação maravilhosa, da qual ele é o instigador se ser o responsável." [2]

O narrador é investigativo e cauteloso, sem jamais proferir uma palavra sequer a respeito da elucidadação do mistério sem uma única prova conclusiva. Chega a ser esquivo já que não há evidências concretas para uma explicação satisfatória. O trecho em que procura por possíveis pistas deixadas na noite anterior é ilustrativo: "Debalde percorria a casa, procurando por toda parte traços de arrombamento. Desci ao jardim para verificar se os assassinos teriam tido possibiliadades de introduzir-se por aquiele lado; mas não encontrei o mínimo indício positivo. A chuva da véspera de tal modo ensopara o solo, que nele não havia rastos bastante nítidos. Entretanto, viam-se algumas pegadas profundamente impressas na terra; seguiam duas direções opostas, mas no mesmo rumo, pois partiam da cerca contígua ao campo de péla, e desembocavam na porta da casa e vice-versa. Podiam ser os passos do Sr. Alphonse quando fora buscar o anel no dedo da estátua. Além disso a cerca era menos espessa nesse lugar do que em qualquer outro ponto. Passando e repassando diante da estátua, detive-me um momento para examiná-la. Forçoso é confessar que não pude contemplar-lhe a expressão perversa do rosto sem um sentimento de terror; e, com a cabeça ainda repleta de cenas impressionantes, que acabara de testemunhar, não é de estranhar que me assaltasse a impressão de que aquela infernal divindade festejava a desgraça desferida sobre a casa." [3]

Mérimée é um narrador que conta exatamente o que vê, sem mais ou menos palavras do que o absolutamente necessário. Ele não é elucidativo quando não encontra as provas para tal, mantendo intacta sua posição, preservando-se de qualquer erro ou confusão. Percebe-se em seu relato uma sutil desconfiança diante dos acontecimentos "sobrenaturais" porém ele não se deixa levar por qualquer explicação - seu voto permanece, como se desviasse de qualquer hipótese. "Mérimée não crê que Deus existe, mas não está muito seguro que o Diabo não existe." [4]

Valery Larbaud, lembrado por Paulo Rónai, faz um belo comentário a respeito do escritor e de sua obra: "Mérimée não age de imediato sobre o espírito do leitor. O efeito só começa depois de acabada a leitura. Secamente, quase que pobremente, ele desenhou as atitudes de suas personagens, contando muito depressa o que fizeram; e, depois, escamoteou-as, matou-as na maioria dos casos, suprimiu-as, como bonecos atirados ao fogo após uma breve representação, ou como figuras dos baralhos dos clubes que são renovados de cada partida. Mas é então que elas começam a viver. Nossa imaginação põe-se a reconstruir a novela, momento por momento, ação por ação, a tal ponto que acontece colaborarmos com o autor, inventarmos aqui ou ali um pormenor. Mas, relendo-o (e Mérimée é para ser relido), vemos que esse detalhe estava indicado, incluído num membro de frase, numa palavra, e que nos fora sugerida à nossa revelia." [5]



Referências Bibliográficas

[1] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 10 e 11

[2] Idem, ibidem, pág. 14

[3] Mérimée, Prosper, A Vênus de Ille, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 152 e 153 - grifos meus.

[4] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, palavras de Saint-Beuve, Carmen e outros contos, editora Ediouro, págs. 10 e 11

[5] Rónai, Paulo, Mérimée Contista, palavras de Valery Larbaud, Carmen e outros contos, editora Ediouro, pág. 15


quinta-feira, 23 de outubro de 2008


...Sinto-me um pouco intrusa vasculhando minha infância. Não quero perturbar aquela menina no seu ofício de sonhar. Não a quero sobressaltar quando se abre para o mundo que tão intensamente adivinha, nem interromper sua risada quando acha graça de algo que ninguém mais percebeu....


...afinal compreendo que não são as palavras que produzem o mundo, pois este nem ao menos cabe dentro delas. Assim, aquela menina dançando no pátio na chuva não cabia no seu protegido cotidiano: procurava sempre o susto que viria além.
Então enfiava-se atrás dos biombos da imaginação, colocava máscaras e espiava o belo e o intrigante, que levaria o resto de sua vida tentando descrever.

Lya Luft
Mar de Dentro

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Receitas afrodisíacas para esquentar a relação


Da Redação
Site Abril.com


A correria do dia-a-dia consegue esfriar qualquer relação. Não é difícil viver a cena de chegar em casa morto de cansaço e com a libido em baixa. Nessas horas, fica impossível até pensar em sexo.Mas, com um pouco de dedicação na cozinha, é possível levantar as energias com alguns pratos afrodisíacos. No livro "Afrodite, Contos, Receitas e Outros Afrodisíacos", a escritora chilena Isabel Allende afirma que a comida tem muito potencial para gerar prazer. "Depois de um jantar erótico que, colherada a colherada, conduz os amantes através dos preâmbulos e jogos amorosos até o leito, deve haver um final feliz: a sobremesa", brinca.Confira abaixo algumas receitas de Isabel, do chef de cozinha do restaurante paulista Tantra, Cabral Filho, e do barmen Maurício Rodrigues de Lima:

Delícia de pêssego
Rende 2 porções
2 metades de pêssego em calda2 bolas de sorvete de limão2 cerejas ao marrasquino1 colher (sopa) de licor de marrasquino1 taça de champanhe rosé ou espumanteColoque cada metade de pêssego em uma taça que tenha boca larga. Sobre a fruta, adicione uma bola de sorvete, enfeite com as cerejas, coloque o licor de marrasquino, encha as taças com o champanhe e sirva imediatamente.

Carpaccio Tantra
Rende de 5 a 6 porções

50 g de filé mignon (ou contrafilé) cortado em fatias bem finas1 maço de rúcula5 ovos de codorna20 g de queijo parmesãoMolho6 colheres (sopa) de azeite6 colheres (sopa) de molho inglês1 colher (chá) de gengibre picado1 colher (chá) de pimenta vermelha picada1 colher (chá) de raiz de coentro picada1 colher (café) de mostarda em grão ou comumBata todos os ingredientes do molho no liquidificador. Guarde o conteúdo em um frasco. Monte o carpaccio da seguinte forma: coloque algumas fatias no centro de um prato raso. Espalhe o molho por cima da carne com a ajuda de uma colher. Ponha o queijo ralado por toda a borda do prato. Fatie a rúcula bem fininha e coloque no centro. Corte o ovo de codorna em quatro, como se fosse uma

Salmão picante
Rende 2 porções

250 g de filé ou posta de salmão2 conchas de caldo de peixe2 conchas de creme de leite fresco1 colher (café) de curry em póSuco de um limãoSal, pimenta e azeite a gostoCorte o salmão em dois pedaços iguais. Deixe-o marinando (descansando) em um molho com sal, pimenta e suco de limão por 15 minutos. Em uma frigideira com azeite, grelhe o peixe em fogo médio. Tome o cuidado de grelhar primeiro a parte que vai ficar virada para cima. Em seguida, acrescente o caldo de peixe e aumente um pouco o fogo. Deixe reduzir (engrossar o caldo) por 4 minutos. Adicione, em seguida, o creme de leite e o curry e deixe cozinhar por 2 a 3 minutos. Sirva acompanhado de arroz branco.

Manga Sensual
Rende 2 porções

1 manga madura1 colher (chá) de sementes de cardamomo2 colheres (sopa) de manteiga1 colher (chá) de pimenta rosa1 colher (chá) de cravo1 colher (chá) de canela em pó8 colheres (sopa) de açúcar200 ml de suco de laranja1 dose de conhaque2 bolas de sorvete de cremeCasca de uma laranja fatiada bem finaEm uma frigideira, derreta 1 colher (sopa) de manteiga, em fogo médio, e acrescente as cascas de laranja. Deixe refogar por 2 minutos. Acrescente o restante das especiarias (cravo, canela em pó, pimenta rosa e cardamomo) e deixe refogar por mais 2 minutos. Acrescente o açúcar e mexa até formar um caramelo. Coloque o suco de laranja, aumente o fogo e deixe reduzir por mais 2 minutos. Coe e reserve. Corte a manga ao meio, tire o caroço e fatie. Refogue as fatias na frigideira, com uma colher (sopa) de manteiga, por dois minutos. Em seguida, acrescente uma dose de conhaque e deixe flambar por 1 a 2 minutos. Coloque os pedaços de manga em um prato e jogue a calda ainda quente por cima. Ponha o sorvete e, se quiser, decore com folhinhas de hortelã.

Corpos Ardentes
Rende 2 porções

1 e 1/2 dose de licor de cacau1 dose de conhaqueBata tudo no liquidificador com três pedras de gelo. Sirva em um copo alto, com calda de chocolate na borda.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


Eu quero lutar com minha caneta. Eu lutaria através da força, com uma arma, mas assim teria de matar outras pessoas. Não quero fazer isso, mesmo que não sejam pessoas boas. Elas não precisam ser mortas, precisam aprender a tornarem-se humanas.

"
Marina, em "Mulheres de Cabul", de Harriet Logan. Cabul na foto.

domingo, 12 de outubro de 2008

Existem sim forças maiores do que tudo que podemos supor nessa vida.
Existem forças que nos arrastam...minutos que se eternizam e jamais poderão ser esquecidos...Existe o amor e ele traz consigo um leque de novos sentimentos, ele faz tudo valer a pena . Hoje vivi dois momentos grandiosos ao lado dos meus pais...momentos para carregar no coração por toda vida...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008


Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim

Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
E todo grande amor
Só é grande se for triste

Por isso, meu amor,
Não tenho medo de sofrer
Pois todos os caminhos
Me encaminham a você

Assim como o oceano
Só é belo com o luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer

Assim como viver sem teu amor
Não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

Vinícius de Moraes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Site publica lista com seriados que podem ser cancelados


Tremam fãs de seriados! O site TV by The Numbers, que monitora a audiência da televisão americana, publicou esta semana um relatório sobre as possíveis séries a serem canceladas.

Está bem que nada é oficial, mas o site é conhecido por acertar muitas de suas previsões. Segundo a lista,
The New Adventures of Old Christine, Lipstick Jungle, Knight Rider, Terminator: Sarah Connor Chronicles, Gary Unmarried, e My Name is Earl estão na corda bamba do cancelamento.

Ainda segundo o site, os seguintes programas provavelmente terão novas temporadas: G
rey’s Anatomy, Desperate Housewives, House, Two and A Half men, CSI: Miami, 90210, Criminal Minds, Heroes, Simpsons, e Family Guy. Nada de estranho nesses palpites.

Clique no link abaixo e visualize a listagem completa

http://revistamonet.com.br/files/497/2008/10/sweeps.jpg

Extraído do Blog Monet

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Jane Austen...Hannah Arendt



As GRANDES mulheres do passado exercem sobre mim um fascínio e admiração que não sei bem como explicar, adoro ler sobre suas vidas e suas inspirações, às vezes chego a me sentir grata, pois foram tantas lutas travadas, tantas conquistas em nome do nosso sexo, tantos nomes que nunca conheceremos mas que buscaram sonhos que hoje para nós são uma realidade tão distante daquela época e tão comum a nossa.
Foi assim com muitas feministas no início do século passado, ridicularizadas, perseguidas...não reconhecidas, mas guerreiras.
Ter um ideal, uma paixão...um desejo capaz de mudar um tempo, um século...muitas vidas...perseguir um sonho...quantas pessoas são tão corajosas assim?
Hoje estou especialmente interessada em uma mulher admirável: Jane Austen, pouco se sabe de fato sobre sua vida, a atriz Anne Hathaway fez um filme sobre sua história no ano passado chamado "Becoming Jane" é um relato fictício da vida de Jane Austen, com certeza inspirado em uma de suas obras como: Orgulho e Preconceito. O filme imagina Jane Austen, quando jovem, se apaixonando por um jovem inculto, Tom LeFroy, e cria acontecimentos em que o público é levado a crer que poderiam ter ajudado a moldar os romances de Austen...eu como sempre, derramei boas lágrimas ao assistir o filme, mas de fato a narrativa pouco tem a ver com a verdadeira vida da romancista.



Jane Austen


Romancista britânica nascida em Steventon, Hampshire, Inglaterra, cuja obra literária deu ao romance inglês o primeiro impulso para a modernidade, ao tratar do cotidiano de pessoas comuns com aguda percepção psicológica e um estilo de uma ironia sutil, dissimulada pela leveza da narrativa. Filha de um pastor anglicano, toda a sua vida transcorreu no seio de um pequeno grupo social, formado pela aristocracia rural inglesa. Aos 17 anos, escreveu seu primeiro romance, Lady Susan, uma paródia do estilo sentimental de Samuel Richardson. Seu segundo livro, Pride and Prejudice (1797), tornou-se sua obra mais conhecida, embora, inicialmente, tenha sido malvisto pelos editores, o que levou por algum tempo ser descriminada no meio editorial. Depois conseguiu publicar o romance Sense and Sensibility (1811), cujo sucesso levou à publicação, ainda que sob pseudônimo, de obras anteriormente recusadas. Vieram ainda outros grandes sucessos como Mansfield Park (1814) e Emma (1816) em um estilo menos ágil e humorístico, porém ganhando em serenidade e sabedoria, sem perda de sua típica ironia. Morreu em Winchester, um ano antes de serem publicadas as obras Persuasion e Northanger Abbey, uma deliciosa sátira, escrita na juventude, ao gênero truculento da novela gótica. Seu poder de observação do cotidiano forneceu-lhe material suficiente para
dar vida aos personagens de suas obras, e a crítica considerou-a a primeira romancista moderna da literatura inglesa.
Extraído do site Netsaber Biografia

Filme mostra Jane Austen como paqueradora inveterada


Plantão Publicada em 25/04/2008 às 18h13m
Reuters/Brasil Online
Por Avril Ormsby
O Globo
LONDRES (Reuters) - Os fãs de Jane Austen que pensam que a romancista inglesa do século 18 era uma moça recatada da zona rural podem se chocar com um novo filme da TV britânica que a mostra flertando, sofrendo ressacas e mudando de idéia em relação a um pedido de casamento que já tinha aceitado.
Mas a roteirista de "Miss Austen Regrets" acha que qualquer pessoa que tenha lido seus livros reconhecerá Austen como uma mulher espirituosa e hábil em relacionar-se na sociedade.
"Não estou pintando um retrato malicioso", disse Gwynteh Hughes.
"Algumas pessoas podem não gostar de ver Jane Austen de ressaca, mas meu objetivo não foi chocar."
Helen Lefroy, parente distante de Tom Lefroy, que foi amigo de Jane Austen, disse que a escritora pode ter sido agitada e brincalhona, mas que "não era desmedida".
"Sabemos muito pouco sobre ela, mas não acho que ela estivesse à procura de um casamento", disse Lefroy. "O que ela queria era compreender as relações entre homens e mulheres, coisa que usou tão bem em seus romances."
O roteiro do filme produzido pela BBC e que irá ao ar no domingo é baseado nas mais de cem cartas ainda existentes escritas por Jane Austen a sua irmã Cassandra e sua sobrinha Fanny.
Autora dos clássicos literários "Orgulho e Preconceito" e "Razão e Sensibilidade", Jane Austen nunca encontrou um "Mr. Darcy" em sua própria vida.
Mas o filme mostra vários namoros dela e também um pedido de casamento, que Austen, então com 27 anos, inicialmente aceitou, mas então, depois de passar uma noite refletindo, rejeitou.
"Isso teria sido visto como uma grosseria incrível, uma enorme falta de educação", disse Hughes. "Como algo escandaloso, frívolo e errado."
Mais tarde, já na meia-idade, Jane Austen se apaixonou por um médico dez anos mais jovem que ela, que tratava seu irmão.
"Acho que ela o desejava loucamente", disse Hughes.
A roteirista acrescentou que Austen flertou muito em sua vida e gostava de frequentar festas.
"Ela era uma mulher normal", dise Hughes. "Quando ia a uma festa, tomava vinho e podia acordar de ressaca."
Hughes acredita que muitas das cartas de sua irmã foram destruídas por Cassandra para poupar os sentimentos de amigos, familiares e vizinhos e para proteger a privacidade de sua irmã.
"Jane Austen era animada e implacável em suas críticas. Alguns dos comentários que fazia sobre seus vizinhos são capazes de fazer você chorar de rir."

Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarrá-la toda de uma vez?
Jane Austen



Hannah Arendt



Conhecida como a pensadora da liberdade, Hannah Arendt viveu as grandes transformações do poder político do século 20. Estudou a formação dos regimes autoritários (totalitários) instalados nesse período - o nazismo e o comunismo - e defendeu os direitos individuais e a família, contra as "sociedades de massas" e os crimes contra a pessoa.Sua obra é fundamental para entender e refletir sobre os tempos atuais, dilacerados por guerras localizadas e nacionalismos. Para ela, compreender significava enfrentar sem preconceitos a realidade, e resistir a ela, sem procurar explicações em antecedentes históricos.Embora fosse de família hebraica, não teve a educação religiosa tradicional judia e sempre professou sua fé em Deus de forma livre e não-convencional. É importante saber desse aspecto porque Hannah dedicou toda sua vida a compreender o destino do povo judeu perseguido por Hitler.Foi aluna do filósofo Heidegger - com quem teve um relacionamento amoroso - na universidade alemã de Marburgo, e formou-se em filosofia em Heidelberg.Em 1929, quando o mundo mergulhava na recessão causada pela quebra da Bolsa de Nova York, Arendt ganhou uma bolsa de estudos e mudou-se para Berlim. Quando o nacional-socialismo de Hitler subiu ao poder, em 1933, ela saiu da Alemanha e foi para Paris, a capital francesa, onde entrou em contato com intelectuais como o escritor Walter Benjamin.Nessa época, colaborou em instituições dedicadas a preparar jovens para viverem como operários ou agricultores na Palestina - ao mesmo tempo, trabalhou como secretária da baronesa Rotschild, de uma família de banqueiros.Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo francês de Vichy colaborou com os invasores alemães e, por ser judia, Hannah foi enviada a um campo de concentração, em Gurs, como "estrangeira suspeita". Porém, conseguiu escapar e aportou em Nova York, em maio de 1941.Exilada, ficou sem direitos políticos até 1951, quando conseguiu a cidadania norte-americana. Então começou realmente sua carreira acadêmica, que duraria até sua morte. Combateu com toda a alma os regimes totalitários e condenou-os em seus livros "Eichmann em Jerusalém" e "As origens do totalitarismo". No primeiro, estuda a personalidade medíocre de Adolf Eichmann, formulando o conceito da "banalidade do mal". Em seus depoimentos, Eichmann disse que cumpria ordens e considerava desonesto não executar o trabalho que lhe foi dado, no caso, exterminar os judeus.Hannah concluiu que ele dizia a verdade: não se tratava de um malvado ou de um paranóico, mas de um homem comum, incapaz de pensar por si próprio, como a maior parte das pessoas. Essa afirmação é um eco da frase do filósofo e matemático francês Pascal (1623-1662) "Nada é mais difícil que pensar".Arendt, a teórica do inconformismo, também defendeu os direitos dos trabalhadores, a desobediência civil e atuou contra a Guerra do Vietnã (1961-1975).

Há uns que nos falam e não ouvimos; há uns que nos tocam e não sentimos; há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas... há aqueles que simplesmentevivem e nos marcam por toda vida."
(Hannah Arendt)

A nossa crença na realidade da vida e na realidade do mundo não são, com efeito, a mesma coisa. A segunda provém basicamente da permanência e da durabilidade do mundo, bem superiores às da vida mortal. Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas. A confiança na realidade da vida, pelo contrário, depende quase exclusivamente da intensidade com que a vida é experimentada, do impacto com que ela se faz sentir."
Hannah Arendt






sexta-feira, 3 de outubro de 2008


Sossega, coração! Não desesperes! Talvez um dia, para além dos dias, Encontres o que queres porque o queres. Então, livre de falsas nostalgias, Atingirás a perfeição de seres. Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! Pobre esperança a de existir somente! Como quem passa a mão pelo cabelo E em si mesmo se sente diferente, Como faz mal ao sonho o concebê-lo! Sossega, coração, contudo! Dorme! O sossego não quer razão nem causa. Quer só a noite plácida e enorme, A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério.

Lya Luft

quinta-feira, 2 de outubro de 2008


Todos os dias acordo com essa música delícia na minha cabeça e chego no trabalho cantarolando...estranho né...rsrsrsr

Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fonte: Revista Época
Luis antônio Giron

“...depois, querida, ganharemos o mundo”
A profética frase de Machado de Assis faz parte de um conjunto inédito de cartas que ÉPOCA revela com exclusividade. Hoje, o maior escritor brasileiro começa a ser reconhecido em todo o mundo


Nos cem anos de sua morte, comemorados nesta segunda-feira, 29 de setembro, Machado de Assis ainda é capaz de provocar surpresas. Sua extensa obra – nove romances, 200 contos, uma dezena de peças de teatro, cinco coletâneas de poemas e milhares de crônicas – está praticamente canonizada e o torna, indiscutivelmente, o maior escritor do Brasil. Mas quem é esse gênio? É o austero fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL)? O monstro cerebral pessimista e sarcástico como o descreviam os modernistas? Ou o herói do povo, como defendiam os primeiros socialistas? Embora os estudos machadianos tenham gerado dezenas de milhares de títulos – Machado é o ramo do conhecimento literário brasileiro mais estudado –, sua vida permanece envolta em mistérios, em especial os anos de juventude. Como um sujeito pobre e mestiço, numa sociedade ainda escravagista, conseguiu se tornar o mestre da cultura brasileira? ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, a um conjunto de cartas ainda inéditas de Machado, que ajudam a responder a essas perguntas e a desvendar o enigma machadiano. “Pela primeira vez, podemos compreender o fluxo da correspondência de Machado, suas amizades, amores, relação com a política de seu tempo e preocupações filosóficas”, diz o ensaísta e diplomata Sérgio Paulo Rouanet, da ABL. Rouanet coordena o projeto mais arrojado do centenário de Machado: organizar em ordem cronológica toda a correspondência do escritor, tanto a escrita por ele como a recebida por ele ao longo de 50 anos de vida intelectual. O primeiro volume do trabalho, Correspondência de Machado de Assis, Tomo I (1860-1869) , sairá em outubro. São 90 cartas. O segundo, previsto para 2009, contém oito centenas de cartas e cobre os 40 anos restantes.

O Machado de Assis que emerge dessas cartas é um personagem novo, distante dos estereótipos que nos habituamos a estudar na escola. Trata-se de um dândi, um jornalista e poeta empolgado com a frenética vida social e boêmia do Rio de Janeiro imperial. Ele sai com atrizes de teatro, conta suas aventuras aos amigos, divide confidências e dá conselhos. Num sinal de que estava bem à frente de seu tempo, sugere à noiva a leitura de um compêndio feminista. A um amigo distante, filosofa sobre a podridão do comportamento humano e a vida na cidade. De modo maroto, esquiva-se das ordens dos caciques políticos que chefiam o jornal em que trabalha, o Diário do Rio de Janeiro. Ele é um Machado que, mais que tudo, desce do monumento da academia e vai às ruas, rejuvenescido.

A ÍNTEGRA DAS CARTAS

As duas cartas manuscritas de Machado a Carolina que restaram da correspondência íntima do casal foram reencontradas há um mês no Museu da República, do Rio de Janeiro.

A investigação que descobriu esse novo personagem mundano começou há dois anos, sem outra intenção que ordenar um material desconhecido. Rouanet convidou as pesquisadoras Irene Moutinho e Silvia Eleuterio para sair à cata de cartas em arquivos e bibliotecas. Logo, as surpresas e os textos inéditos começaram a vir à tona – e esse novo Machado, mais jovem e impetuoso, começou a ganhar corpo.

Uma das principais descobertas feitas por Irene está no texto de uma das duas cartas íntimas que restaram de Machado a Carolina, então sua noiva. Elas foram escritas no mesmo dia, 2 de março de 1869, quando Carolina estava em Petrópolis para tomar conta do irmão, o jornalista e poeta – e amigo de Machado – Faustino Xavier de Novaes (1820-1869). Faustino sofria de distúrbios mentais e morreria em agosto. “Machadinho”, como Machado assinava sua correspondência a Carolina, estava aflito por reencontrar a amada. Derramou-se em declarações e elogios a ela, numa letra apressada e nada legível. Perto da conclusão, uma palavra soava estranha a quem se acostumara com uma versão que fora divulgada em 1939, no Catálogo da Exposição do Centenário de Machado de Assis, repetida até hoje. O trecho da carta que embatucou a pesquisadora dizia: “depois... depois, querida, queimaremos o mundo, porque só é verdadeiramente senhor do mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis”.

O convite de Machadinho para a queimada planetária soava esquisito. “Havia algo de errado”, diz Irene. Acostumada com manuscritos, ela foi à caça dos originais, dados como perdidos. Encontrou o documento no Museu da República, no Rio de Janeiro. As duas cartas foram doadas à instituição pela sobrinha de Machado, Laura Braga da Costa. Irene fez a cópia das cartas e comparou-as com os textos impressos. “Notei discrepâncias e deduzi, pela análise dos garranchos, que tudo apontava para ‘ganharemos’, e não ‘queimaremos’”, afirma Irene. A carta, corrigida, ganhou um novo sentido. Machadinho declara premonitoriamente a sua “Carola”: “...depois, querida, ganharemos o mundo”. “A sensação foi de alívio”, diz Rouanet. “Nosso Machado não era incendiário aos 30 anos, nem fez um convite terrorista a Carolina!”
Acervo ABL


O desejo de Machado está se cumprindo. Hoje, ele começa a conquistar o mundo. Os simpósios internacionais sobre sua obra, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, atraem a atenção de acadêmicos respeitáveis. Críticos de alta reputação, como os americanos Harold Bloom e Susan Sontag e o inglês John Gledson, elevaram-no ao patamar dos gênios. Em seu livro Gênio, de 2003, Bloom define Machado como “um milagre”, por ter conseguido fugir de sua situação social e histórica para criar uma ficção universal. Seus livros foram traduzidos para 14 idiomas, a maior parte na década passada. Há, nos EUA, um entusiasmo por novas traduções.

A glória mundial de Machado será enriquecida pela redescoberta de suas cartas. Elas contêm mistérios que mostram a complexidade da relação amorosa entre Machado e Carolina. Uma das charadas da primeira carta está no terceiro parágrafo. Ele diz: “Sofreste tanto que até perdeste a consciência do teu império; estás pronta a obedecer; admiras-te de seres obedecida”. Soa cifrado. E as únicas explicações que poderiam elucidar o enigma estariam nas demais cartas íntimas, queimadas após a morte de Machado.
AMOR DEFINITIVO
A portuguesa Carolina (em foto de c. 1890) casou-se com Machado de Assis (acima, aos 25 anos) em 1869. Ela foi trazida do Porto depois de uma suposta desilusão amorosa. Viveram juntos por 35 anos
A Dama do Livro" e outros mistérios
Luiz Antonio Aguiar*

Conta-se que Machado, lá por 1855, contrariando seus hábitos, deixou de aparecer, nos finais de tarde, na Livraria Garnier. Seus amigos arriscaram que estaria com uma amante e foram segui-lo. De fato, havia uma senhora, A Dama do Livro, quadro do italiano Roberto Fontana, hoje na Academia Brasileira de Letras. Machado se apaixonara pela pintura e, achando o preço acima de suas possibilidades, contentava-se em visitá-la, diariamente, na vitrina. Os amigos deram a tela de presente a Machado, com um bilhete: “Não se esqueça de nós”. Machado, em agradecimento, lhes dedicou o “Soneto Circular”.

Ora, as reservas de Machado sempre estimularam fantasias. Tal como a Lenda da Madrinha, a senhora Mendonça Barrozo, que lhe teria aberto sua biblioteca e proporcionado ao afilhado pobre, que não freqüentou escola, a iniciação nos clássicos da literatura. Só que a madrinha morreu quando ele tinha 6 anos, idade em que ninguém já teria se iniciado em clássicos. Existe ainda a Lenda do Padeiro, um amigo, padeiro e francês, que, entre uma fornada e outra, haveria ensinado ao menino o idioma, algo jamais comprovado e pouco factível.

A mais peculiar é a da origem de seu apelido. Temos o poema de Drummond, intitulado “A um Bruxo com Amor”. Mas, existe A Lenda do Caldeirão. Na ABL, está o caldeirão de bronze em que Machado costumava queimar cartas e manuscritos descartados, no sobrado da Rua Cosme Velho, 18. Vendo-o assim, a vizinhança deu de gritar: Olha o Bruxo do Cosme Velho!...

Nessa biografia, não faltam controvérsias. Na certidão de óbito de Machado, além de omitida sua filiação, está que o mulato, autor de agudos textos contra a escravatura, era branco. E como profissão do presidente da ABL, nosso maior romancista, registrou-se: funcionário público.

Entretanto, nenhum mistério biográfico será tão fértil quanto suas bruxarias literárias. Esse escritor que alguns querem reduzir ao realismo e a mero retratista da História é o mesmo que deu a um canário o poder de desnortear um Darwin tropical devoto da ciência e da razão. Que transmitiu a um cronista a língua guliveriana para este participar do diálogo de dois burros sobre o progresso. Que conjurou defuntos e debateu com vermes sobre o lado patético da morte. E que, se retratou o Brasil, antes inventou uma câmera, um filme... e uma nova inteligência para decifrar os dilemas do Ser-Brasileiro.
Na ABL está o caldeirão em que Machado queimava cartas e manuscritos

Já o debate Capitu: culpada ou inocente, em cartaz há 109 anos, é a expressão corrente da impossibilidade de desvendar esse romance. Por um lado, os ardis de Bento Santiago incitam à suspeita e podemos tentar desconstruí-los, como se fossem um véu encobrindo a verdade. Por outro, levantaríamos o véu somente para constatar que não há, por baixo, face alguma. O que lemos, mesmo que para contestá-la, é a narrativa de Bentinho; não existe uma Narrativa de Capitu, nesse romance.

Ou seja, podemos denunciar a intriga que Bento Santiago fez contra Capitu para convencer o leitor... ou avalizar as confissões de um solitário Bentinho... Ou nenhuma das hipóteses? Ou ambas? Que tal alterná-las, caprichosamente? Afinal, escreveu o Bruxo: “Há neste mundo o que se possa dizer verdadeiramente verdadeiro? Tudo é conjetural.”

Algo semelhante ocorre quando nosso cronista se mete num leilão de objetos usados e lá fica a conjeturar sobre o background de uma espada. A princípio, quase nos convence de que teria sido usada na Guerra do Paraguai. Em seguida, lembra a notícia, num jornal, da chegada de imigrantes, dos quais, entre muitos de cada nacionalidade, havia um grego. Daí, quem empenhou a espada teria de ser esse grego, até porque, sendo apenas um, reclamaria menos que os demais, do cronista, caso estivesse sendo acusado injustamente. Finalmente, aventa que a espada teria sido trazida por um contra-regra, que a roubara de um cenário de teatro para conseguir uns cobres para o almoço. E encerra: “Se tal foi, façam de conta que não escrevi nada, e vão almoçar também, que é tempo”.

Foi a última crônica que Machado publicou. Haveria da parte dele despedida mais significativa e elegante?

* Escritor, autor de Almanaque Machado de Assis e organizador da coletânea de crônicas de Machado O Mínimo e o Escondido, pela Salesiana

OBSESSÃO
O óleo sobre tela A Dama do Livro (1882), de Roberto Fontana, era objeto do desejo de Machado, que não podia pagar por ele. Os amigos se cotizaram e lhe deram a obra de presente