quarta-feira, 17 de junho de 2009


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres ou dizer um simples obrigado.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas... Quando não há nenhum fotógrafo por perto.

É possível vê-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam... Nas pessoas que escutam mais do que falam.... E quando falam, passam longe da fofoca e das maldades ampliadas no boca a boca.

É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, por exemplo.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas...

Oferecer flores é sempre elegante...
É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais o saber.

É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro...
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...

Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.

Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma... Olhar nos olhos, ao conversar, é essencialmente elegante...

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.

A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.


Martha Medeiros

sexta-feira, 22 de maio de 2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009


Onde as personagens infantis fumavam narguilê sentadas sobre cogumelos.

*
A Lagarta e Alice olharam-se por algum tempo em silêncio. Finalmente, a Lagarta tirou o narguilé da boca e perguntou, em voz lânguida e sonolenta:

– Quem é você?

Não era um começo de conversa muito animador.
Um pouco tímida, Alice respondeu Eu.. eu… nem eu mesmo sei, senhora, nesse momento… eu… enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.

– Que é que você quer dizer com isso? – perguntou a Lagarta rispidamente. – Explique-se!

– Acho que eu mesma não posso explicar – disse Alice – porque eu não sou eu, está vendo?

– Não, não estou.

– Acho que não posso explicar melhor – replicou Alice com polidez – porque eu mesma não consigo entender, pra começar. E depois, ter tantos tamanhos diferentes num dia só é muito confuso.

– Não, não é.

– Bom, não sei. Talvez a senhora ainda não tenha passado por isso – continuou Alice – mas quando tiver de se transformar numa crisálida… pois isso lhe acontecerá algum dia, não é?… e, depois disso, numa borboleta, tenho a impressão de que achará meio esquisito, não?

– Nem um pouco.

– Bom, quem sabe a sua maneira de sentir talvez seja diferente
– disse Alice – mas o que sei é que tudo isso pareceria muito esquisito para mim.

– Você! – exclamou desdenhosamente a Lagarta. – E quem é você?

quarta-feira, 22 de abril de 2009


Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Clarice Lispector

domingo, 1 de fevereiro de 2009

É necessário abrir os olhos e perceber
que as coisas boas estão dentro de nós,
onde os sentimentos não precisam
de motivos nem os desejos de razão.
O importante é aproveitar o momento
e aprender sua duração,
pois a vida está nos olhos de quem sabe ver"


Gabriel Garcia Marques

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. -
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito?Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado?
Sem dúvida...
Tenho um presente?
Sem dúvida...
Terei um futuro?
Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

[Alvaro de Campos]