quarta-feira, 16 de abril de 2008

Das coisas mais simples...


Foi assim...simples...terno...quase como uma brisa refrescante após tanto tempo aprisionada com aquele sentimento de solidão... que Ele apareceu...hoje quando Ela para pra pensar não sabe bem dizer se Ele foi um anjo ou um demônio...mas foi anjo com certeza...porque a lembrança de instantes de uma felicidade tão pura, tão dela, ainda a fazem sorrir sozinha algumas vezes, a lembrança ficou como um tesouro particular que ajuda à afastar fantasmas em dias tristes.
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade Ela estava novamente entre meninas alegres e despreocupadas, fechou os olhos, nem se lembrava mais como era aquela sensação. Estava em uma cidade que não era a sua, com amigas que também não eram suas até aquele dia, mas ali estavam cinco mulheres juntas, prontas a celebrar o aniversário de uma delas, tão absurdamente engraçadas e divertidas, os dias anteriores de lágrimas e tristeza pareciam ate sem sentido.
Compraram suas camisas para uma chopada que teria na cidade, foram pra casa e cada uma a sua moda cortou e amarrou de forma sensual e jovial, aí foi uma profusão de maquiagens, chapinhas, perfumes, cremes, troca- troca de sandálias e casacos, (a diversão para a maioria de nós com certeza começa exatamente nos preparativos que antecedem a qualquer festa ). Ela colocou sua jaqueta branca, e pintou um pouco os olhos, estava entusiasmada mas ainda um pouco deslocada. O dia estava feio e frio, por isso mesmo foram para a festa caminhando e falando besteiras engraçadas. Quando subiram as escadas do clube onde estava sendo realizado o evento, foram recebidas com assobios e palmas...entreolharam-se vermelhas pelo frio e pela recepção calorosa, sem entender nada, só porque eram de fora da cidade? mas a maioria ali também era... a vontade foi descer correndo, mas foram logo pegar o primeiro chopp...dai em diante tudo foi ficando mais fácil e mais divertido, a cada momento elas conheciam um grupo de pessoas diferentes, tanto homens quanto mulheres, em dado momento, quando todas já estavam pra lá do buraco de Sadam, bem depois de Bagdá, mas sem descer do salto 15...Ele se apresentou com mais dois amigos, cada qual com suas características bem distintas, super loiro, moreno e Ele...branquinho de cabelos escuros e olhos tristes, claro que naquele momento Ela não notou isso, estava distante demais da festa, preocupada mais uma vez com tudo que tinha deixado para trás...se afastou para respirar um pouco de ar puro, nem sabe dizer quanto tempo ficou sozinha até que as amigas vieram buscá-la com uma nova rodada de chopp, outras pessoas chegaram bateram papo e se foram...Ela com o celular na mão, naquele eterno dilema do liga ou não liga para alguém que está a 1355Km de distância (dados do guia turístico). Como diria sábia amiga, o celular deveria ter um bafômetro acoplado ao microfone, a fim de que gente alcoolizada não cometesse essas gafes de ligar para determinadas pessoas nesse estado...bem o orgulho, ou força de vontade falou mais alto, já que tinha decidido mudar o rumo da sua vida, tinha que ser firme...e então mais uma vez Ele se aproximou, suave como o vento que começava a soprar, o primeiro pensamento dela foi ser rude com Ele, mas vendo as amigas rindo e se divertindo, mudou de idéia...se deixou ficar ali apenas conversando, tentou ser simpática apesar da irritação que sentia, mas Ele tornou tudo mais fácil, Ele era tão fora daquela realidade...tão paciente e doce...ficaram assim muito tempo falando de amenidades. Até que todos do grupo se reuniram novamente.
Quando uma das amigas passou mal, Ele foi o mais atencioso, correu para socorrer mostrando seus conhecimentos como estudante de medicina, foi uma graça. Passado o susto, todas decidiram voltar pra casa, pois ainda teria um bolo surpresa para a aniversariante, as meninas convidaram os três rapazes para acompanha-las, Ele e os dois amigos, Ela ficou um pouco confusa, estava tudo acontecendo meio rápido, se sentia tonta, mas secretamente sentiu o coração dar um pulinho de alegria, que estranho. Voltaram pra casa novamente caminhando, Ela foi andando a frente do grupo conversando com Ele, enquanto o efeito do álcool ia passando em parte pela caminhada e pelo ar frio da noite que chegava. Notou que Ele era diferente do que imaginara a principio, não lhe parecia um dos estudantes depravados e de cabeça vazia, tinha um maravilhoso senso de humor e era educado e franco, assim como seus dois amigos, era um grupo singular aquele, pois pareciam inteiramente inofensivos e foi se formando um elo de amizade entre todos eles
A festinha surpresa foi sucesso total, as cinco com seus três novos amigos e ainda suas primas e tias, após se entupirem de brigadeiros e bolos e tirar fotos hilárias com chapeuzinho, elas foram convidadas para ir a uma nova festa, um rodeio...Ela ficou meio indecisa, achava injusto deixar toda bagunça pra tia arrumar sozinha e decidiu ficar em casa, Ele foi arrastado pelo grupo meio a contra gosto porque queria ficar com Ela...e acabou realmente ficando, um segundo depois Ele voltava e sorrindo dizia que preferia ficar lavando panela ao seu lado... foi estranhamente um momento único aquele, Ele com as mão cheias de sabão em meio ao caos da cozinha, sorrindo...foi ali que o coração dela começou a ceder...a quanto tempo ninguém fazia um gesto tão simples e bonito por Ela. Eles se deram as mãos e ficaram longo tempo conversando sentados nos degraus da varanda, Ele era ótimo ouvinte...tão carinhoso e divertido, pareciam amigos de longa data apesar daquele olhar faminto que por vezes Ele lhe lançava. O beijo aconteceu da forma mais natural, porque continuar a resistir se tudo nela gritava por aquele beijo...estava livre apesar de ainda não ter se habituado a isso, Ele fazia seu coração bater forte, segurava sua mão com uma ternura capaz de romper as barreiras a muito tempo erguidas...tinha aquele olhar que não precisava dizer muita coisa...e foi como se aquelas bocas sempre tivessem sido feitas para se beijarem...foi perfeito, intenso, doce e inesquecível.
Quando os outros voltaram, estavam entusiasmados e novamente alcoolizados, mas logo perceberam a nova cumplicidade que havia entre Ele e Ela...O rapazes foram embora, elas foram tentar dormir, mas não sem antes repassar todos os acontecimentos do dia, entre risos e falatórios acho que ninguém conseguiu dormir aquela noite. Ela então, tinha o coração em festa, tudo era de certa forma meio novo...um dia de redescobrir a si mesma, redescobrir seus poderes de sedução, achou que nem saberia mais com se faz...mas Ele trouxera tantas emoções a tona...com um beijo Ele fizera o seu coração reviver, e seu ego também estava em festa...mulheres são assim, precisam alimentar sua feminilidade.
O dia seguinte...Ah o dia seguinte foi uma agradável continuação do anterior, elas passaram o dia preguiçosamente deitadas tagarelando e no meio da tarde uma buzina na rua fez todas darem um salto...eram eles.... Quando Ele a viu, puxou- a para lhe dar um forte abraço...e o dia ate então, tão cinza e frio pareceu ficar azul e subitamente quente. Foram todos para praça da cidade tomar vinho e tocar violão, o vento gelado não tirava o entusiasmo, Ele apertava ela em seus braços, acariciava seus cabelos, seu rosto...tinha um toque tão dela que por vezes chegava a confundi-lá...Então a felicidade pode ser assim, pensou Ela, somente uma entrega sem medo, somente estar ali com um estranho tão íntimo que reconfortou seu coração quando nada a sua volta tinha significado. Todos voltaram para casa famintos, devoraram sanduíches na varanda, o frio havia aumentado, mas por alguma mágica, isso pouco importava, o grupo ficou ali conversando ate de madrugada, adiando ao máximo o momento da despedida...Quando a hora inevitável chegou, Ele cobriu o rosto dela com beijos até encontrar seus lábios ficaram assim um longo tempo e no dia seguinte Ela voltou para sua cidade. Nunca mais se viram, Ela era medrosa ainda, tinha medo de se apaixonar, falaram-se muito por telefone, trocam e-mails e ainda hoje Ele lhe manda mensagens nos dias festivos como no aniversário dela ou no natal.
Ele derrubou uma árvore plantando no lugar novas sementes, era assim que Ela se sentia pois jamais voltou a ser a mesma após aqueles dois dias, nem Ela mesma podia entender a força de tudo que sentira, um encontro tão simples e tão forte, muito tempo Ela ainda carregaria a sensação daqueles momentos...momentos que preparam seu coração para a chegada do grande amor que depois veio a conhecer... amor que ela então se permitiu viver.