segunda-feira, 16 de junho de 2008

PROVA DE AMIZADE


A amizade feminina sempre gerou controvérsias. Tem gente que acha que
mulher é mais fiel do que o homem em tudo, inclusive em relação às
amigas. E há os que acreditam que não existe amizade feminina, que elas
são o que pode-se chamar de inimigas íntimas. É uma discussão antiga que
até hoje permanece inconclusa. Somos amigas ou concorrentes? Qual é a
maior prova de amizade que uma amiga pode dar? Muitas respondem: não
esconder nada, nem mesmo se vir o marido da amiga com outra. Tem que
contar.

Mas eu não conto. Nunca testemunhei um adultério, mas se vir, não conto.
E é por deixar clara essa minha posição que muitas amigas me olham
enviesado, questionando minha amizade. Sorry, gurias, não conto.

Você está num restaurante badalado e encontra o marido da sua melhor
amiga num papo animado com uma morena decotada até o umbigo. Não conto.
Se ele escolheu um local tão freqüentado, não deve ter nada a esconder,
é uma cliente, uma cunhada, a irmã dele que mora em Minas. Mas e se ele
escolheu este restaurante justamente para não levantar suspeitas? Sou
péssima em charadas. Não conto e fim.

Você pára num boteco de estrada para dar um telefonema quando dá de cara
com o namorado da sua amiga no maior amasso com a garçonete. Não conto.
E se ele terminou com sua amiga ontem à noite e você não ficou sabendo?
E se essa for a verdadeira esposa dele e sua amiga é que é a outra? E se
for um irmão gêmeo? Não conto.

Você está parada no sinal quando vê o carro do marido da sua melhor
amiga saindo de um motel. Você conhece a marca, você sabe a placa, o
carro é dele. Nem um pio. E se ele tiver emprestado o carro? E se tiverem
roubado? E se ele estiver com a própria? Ou com um homem? Não sou louca
de meter a mão nessa cumbuca.

Você está numa festa quando lhe apresentam Bia, 13 anos, fruto de um
caso extraconjugal do marido da sua prima, que no altar jurou odiar
crianças e a fez aposentar a idéia de ser mãe. É um cretino, mas não
conto. E se sua prima sabe de tudo e não quer comentários? E se for
calúnia? Fizeram teste de DNA? Então não conto.

Seu marido chega alegrinho do bar e dá o serviço: conta todas as
sacanagens que o melhor amigo dele apronta, cuja vítima é sua grande
amiga de infância. Você trai a confiança do seu marido e conta tudo pra
ela? Não conto. E se o cara estava blefando e o seu marido, alcoolizado,
não percebeu? E se foram só casos passageiros e ele for apaixonado de
verdade por sua amiga? E se ela também não for santa? Boquinha fechada.

Qual o castigo que eu mereço? Também não me contem nada.

MARTHA MEDEIROS